Existe retomada?

Bolsa brasileira está barata ou é cilada? Descubra se vale investir agora

Ibovespa segue em máximas, mas prêmio de risco elevado gera dúvida. Analistas revelam os sinais que podem definir se é hora de entrar ou esperar.

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Economia Brasileira
  • Bolsa opera com múltiplos baixos, mas prêmio de risco segue pressionado
  • Selic a 15% reduz atratividade da renda variável frente à renda fixa
  • Analistas veem retomada possível apenas com queda consistente dos juros reais

A Bolsa brasileira vive um momento de contraste. Enquanto o Ibovespa renovou máximas históricas em 2025, muitos analistas ainda enxergam espaço para valorização, com múltiplos atrativos em relação ao histórico.

Mas há uma pedra no caminho: o prêmio de risco. Esse indicador, que mede o retorno adicional exigido para investir em ações em vez de renda fixa, segue pressionado e levanta a dúvida que intriga investidores, afinal, está barato ou é armadilha?

O peso do prêmio de risco

O preço/lucro (P/L) médio da Bolsa está em 8,5 vezes, abaixo da média histórica de 11 vezes, o que indicaria atratividade. Porém, o Equity Risk Premium (ERP) ainda freia o otimismo. Segundo Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, essa é a única métrica que não está tão atrativa.

O motivo é simples: os juros reais no Brasil seguem em níveis recordes. Títulos públicos indexados ao IPCA oferecem taxas acima de 7,5% ao ano, o que encarece o “custo de oportunidade” de investir em renda variável.

Luis Stuhlberger, da Verde Asset, reforçou a tese. Para ele, com ERP em 2,8%, um dos menores em anos recentes, a Bolsa não pode ser considerada barata em termos ajustados ao risco.

Selic alta e impacto nas ações

Com a Selic a 15% ao ano, o juro real supera 10%, oferecendo retorno elevado sem riscos. Nesse cenário, o investidor se pergunta: por que arriscar na Bolsa?

Mario Goulart, analista da Minha Gestora, destaca que o fiscal segue sendo o maior entrave. “O governo gasta demais, os juros sobem e o investimento privado trava”, afirma. Para ele, empresas precisam entregar retornos acima de 15% para justificar o risco.

Mesmo gigantes sólidas, como Itaú, Suzano e Banco do Brasil, enfrentam riscos relevantes: desde sanções externas até volatilidade de commodities e interferências políticas. Esse quadro dificulta a decisão de alocar em ações no curto prazo.

Setores que se destacam

O mercado diferencia empresas conforme o risco. A Gol, altamente exposta a petróleo e câmbio, é vista como aposta arriscada. Já o setor elétrico, com receitas estáveis e contratos de longo prazo, funciona como porto seguro dentro da Bolsa.

Analistas apontam que, apesar da Selic alta, há companhias resilientes e boas pagadoras de dividendos que continuam atraentes. O desafio, no entanto, está no chamado stock picking selecionar ações capazes de superar a renda fixa.

Outro ponto relevante é a concentração do Ibovespa: cinco empresas respondem por 40% do índice, distorcendo o desempenho geral e aumentando o desafio para quem investe de forma passiva.

Há espaço para retomada?

Para Raphael Figueredo, estrategista da XP, há chance de retomada no médio prazo. Se os juros começarem a cair de forma consistente, como ocorreu após 2016, o ERP pode se tornar mais atrativo e destravar valorização.

Essa visão depende, no entanto, de disciplina fiscal. Caso o governo sinalize controle de gastos e avanço nas metas do orçamento de 2025, a percepção de risco pode melhorar e atrair fluxo para a Bolsa.

O problema é que o cenário global adiciona incertezas. As tensões comerciais entre Brasil e EUA, além do impacto político nos Estados Unidos, elevam a cautela. “Nesse ambiente, o ideal é diversificação e calma. Selic alta é conforto temporário, mas tudo pode mudar rápido”, orienta Goulart.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.