- Seis empresas devem deixar a B3 em 2024, sem previsão de novos IPOs
- Desvalorização do mercado de ações e juros altos favorecem fechamento de capital
- Mudanças na regulação da CVM podem agilizar OPAs e atrair investidores estrangeiros
O mercado de capitais brasileiro enfrenta um movimento inverso ao esperado para o crescimento da economia: em vez de novas empresas abrindo capital na Bolsa, o país assiste a um aumento nas Ofertas Públicas de Aquisição de Ações (OPAs).
Analistas projetam que pelo menos seis companhias deixarão a B3 em 2024, enquanto nenhuma nova listagem é esperada. Esse será o quarto ano consecutivo em que o número de empresas listadas na Bolsa encolhe.
Fatores que impulsionam a saída da Bolsa
- Baixa liquidez e desvalorização: O Ibovespa caiu 10,4% em 2024 e sobe apenas 1,87% neste ano, desestimulando novos IPOs.
- Juros elevados: O alto custo do capital reduz o apetite por investimentos em renda variável, tornando a renda fixa mais atrativa.
- Flexibilidade e menos exigências: Empresas fecham capital para evitar regras rigorosas de governança e divulgação de informações financeiras.
“O mercado de capitais está travado e sem liquidez. Com os preços das ações deprimidos, muitas empresas avaliam que não vale mais a pena manter o capital aberto”, afirma André Moor, diretor do Bradesco BBI.
Investidores aproveitam oportunidades
A queda no valor das ações cria um ambiente favorável para investidores institucionais e fundos de private equity, que buscam comprar empresas subvalorizadas para fechar seu capital. Amir Bocayuva, sócio gestor do BMA Advogados, destaca que diversos fundos já estudam a aquisição de companhias listadas.
“Para investidores, há bons ativos com preços defasados no mercado”, afirma.
Outra vantagem para compradores estrangeiros é a desvalorização do real, que torna aquisições no Brasil ainda mais atraentes. O Carrefour, por exemplo, já anunciou que irá fechar seu capital no Brasil e concentrar suas operações na matriz francesa.
Impacto na economia e regulação facilitada
O encolhimento do mercado de capitais brasileiro é um sinal preocupante, pois reduz o acesso das empresas a financiamentos via mercado acionário. Para reverter essa tendência, será necessário um ciclo de corte de juros, o que parece improvável no curto prazo. Atualmente, a Selic está em 13,25%, com previsão de alta para 15% até o final do ano.
Para facilitar OPAs e incentivar mais transações, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) implementará, em julho, novas regras que permitirão maior previsibilidade para investidores interessados em fechar capital.
“Essas mudanças vão permitir transações mais eficientes, sem travas de preços, tornando o mercado mais parecido com o dos EUA”, afirma Vanessa Fiusa, sócia de mercado de capitais do Mattos Filho.
Atualmente, está em andamento a OPA da rede hospitalar Kora Saúde, que deve ser concluída em 20 de março. O fundo de private equity HIG Capital alega que a regulação do Novo Mercado da B3 restringe opções de financiamento e fusões, justificando a retirada da empresa da Bolsa.
Com um ambiente de juros altos e novas regras facilitando OPAs, a tendência é que mais empresas sigam o mesmo caminho, reduzindo ainda mais o mercado de capitais brasileiro no curto prazo.