Bancões

Brasdeco (BBDC4) supera Banco do Brasil (BBAS3) em valor de mercado – o que está afundando o gigante público?

Essa é a primeira vez em sete meses que isso acontece

Apoio

Bradesco
Marilia, São Paulo, Brasil, 10 de fevereiro de 2023. Fachada de Bradesco banco filial assinar na cidade de Marilia, de Marilia, região centro-oeste do Estado de SP. — Foto de alfribeiro

O Bradesco (BBDC4) ultrapassou o Banco do Brasil (BBAS3) em valor de mercado na B3. O levantamento do Broadcast, feito com base nos dados da última quarta-feira (21), mostra que o banco público valia R$ 144,8 bilhões, enquanto o Bradesco atingia R$ 152,5 bilhões.

Essa é a primeira vez em sete meses que isso acontece.

O movimento reflete não apenas os números do primeiro trimestre de 2025, mas principalmente a leitura feita pelos investidores sobre o presente e o futuro de cada banco. 

Enquanto o Bradesco colhe os frutos de sua reestruturação, o Banco do Brasil enfrenta um momento de maior incerteza, especialmente após colocar parte de suas projeções financeiras sob revisão.

Mercado muda de postura sobre BB e Bradesco

Após a divulgação do balanço do BB, o BTG Pactual rebaixou a recomendação das ações de “compra” para “neutra”, e cortou o preço-alvo de R$ 34,00 para R$ 30,00

Já o Citi, que já tinha uma posição neutra, ajustou ainda mais para baixo, reduzindo a projeção de R$ 30,00 para R$ 27,00.

Ambas as instituições também diminuíram suas estimativas de lucro para o banco ao incorporar o impacto das novas normas contábeis e o cenário mais desafiador para o crédito agropecuário.

O que talvez seja o ponto de maior preocupação é a incerteza implícita sobre variáveis importantes, uma vez que a direção do banco decidiu revisar o guidance para o status ‘sob revisão’ em margem financeira, custo de risco e lucro líquido”, destacou o Citi.

Já o Bradesco surpreendeu positivamente. Segundo o Bank of America, o banco privado superou em 8% a expectativa de lucro líquido e entregou um ROE (retorno sobre patrimônio líquido) de 14,4%, um ponto percentual acima do esperado. “O plano de reestruturação, lançado há um ano, começa a mostrar efeitos estruturais positivos”, afirmaram os analistas.

Indicadores de mercado refletem a nova percepção

A mudança de percepção também apareceu nos múltiplos das ações: o Bradesco voltou a ser negociado acima de 1 vez o valor patrimonial, enquanto o BB, que estava próximo desse patamar, viu seus múltiplos recuarem nos últimos dias.

Apesar disso, a rentabilidade do BB ainda se destaca: mesmo com a queda no trimestre, o ROE da instituição pública foi de 16,7%, acima do custo de capital e superior ao do Bradesco. Porém, o que pesa mais para os investidores são as expectativas para os próximos trimestres.

Segundo o vice-presidente de Gestão Financeira do BB, Geovanne Tobias, o segundo trimestre também será desafiador, mas o banco não deve voltar aos níveis de ROE do passado: “Não vamos voltar àquele ROE de 12%, 13% que vimos lá atrás. O BB de hoje é completamente diferente daquele BB”.

Nova regra contábil pesa no crédito agro e derruba receita

Parte da pressão sobre o BB veio da implementação da resolução 4.966 do CMN, que alterou a forma como os bancos contabilizam provisões para perdas. 

O novo modelo — baseado em perdas esperadas — exige provisões mesmo para créditos ainda adimplentes, caso o risco de calote aumente. 

Isso afetou especialmente o crédito rural, que responde por uma fatia relevante da carteira do BB.

De acordo com a própria instituição, o banco deixou de reconhecer cerca de R$ 1 bilhão em receitas no primeiro trimestre por causa da nova norma. 

Em alguns casos, empréstimos ainda em dia foram classificados no estágio 3, o de maior risco, devido a renegociações e pedidos de recuperação judicial de produtores rurais.

“O segmento agro é muito particular, com pagamentos concentrados em uma única parcela e prazos mais longos. A nova norma acaba penalizando isso”, comenta o BTG Pactual.

A presidente do BB, Tarciana Medeiros, admitiu em teleconferência que a revisão do guidance não foi uma decisão fácil: “Mas acredito que seja a mais coerente com o compromisso de transparência que temos adotado desde o início da gestão”.

O banco afirmou ainda que levará ao Banco Central uma proposta para que o crédito agro tenha tratamento diferenciado na aplicação das novas regras contábeis — uma medida que pode ser decisiva para reequilibrar as projeções futuras e reconquistar a confiança do mercado.

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.