
- ETFs do Ibovespa são listados nas bolsas de Xangai e Shenzhen, marcando integração inédita.
- Programa ETF Connect Brasil–China amplia visibilidade e liquidez das empresas brasileiras.
- Especialistas apontam avanço na credibilidade e governança do mercado nacional.
O mercado financeiro brasileiro atingiu um novo marco histórico com a autorização da listagem de ETFs do Ibovespa nas bolsas de Xangai e Shenzhen. A medida, anunciada pelo Ministério da Fazenda e pela CVM, consolida a expansão do Programa ETF Connect Brasil–China, que promove uma integração direta entre a B3 e as principais bolsas chinesas.
Lançado em maio de 2025, o programa começou com fundos brasileiros espelhando índices chineses como CSI 300 e ChiNext. Agora, entra em uma nova etapa com gestoras chinesas como EFunds, China Universal e China Asset Management lançando produtos baseados no Ibovespa, ampliando a visibilidade global do mercado brasileiro.
Internacionalização e fortalecimento da governança corporativa
Segundo André Vasconcellos, diretor de Estratégia da Fictor Alimentos, o avanço representa um passo decisivo para a internacionalização do mercado nacional. “Pela primeira vez, o investidor chinês poderá acessar o Ibovespa dentro do seu próprio ecossistema, com liquidez doméstica e governança reconhecida”, afirmou.
Para ele, o impacto da medida é triplo: mais visibilidade, legitimidade e liquidez. A presença do índice brasileiro no maior mercado emergente de ETFs do mundo reforça a credibilidade das empresas listadas na B3 e incentiva padrões globais de transparência. “O Brasil deixa de ser apenas destino de capital e passa a ser origem de valor”, resumiu Vasconcellos.
Portanto, esse movimento, segundo analistas, pode reduzir spreads, melhorar precificação de ações e atrair novos investidores estrangeiros de longo prazo, fortalecendo o papel do país como plataforma global de investimento.
Diversificação e novas oportunidades para o investidor brasileiro
A integração não beneficia apenas os estrangeiros. Para Marco Saravalle, CIO da MSX, o ETF Connect amplia as opções de diversificação e aproxima o investidor brasileiro do mercado asiático, hoje dominado por produtos ligados aos Estados Unidos.
“O brasileiro busca cada vez mais exposição internacional, e a China é um parceiro estratégico por sua conexão direta com o Brasil via commodities”, avaliou. Segundo ele, a reciprocidade é o diferencial: enquanto investidores chineses passam a replicar o Ibovespa, brasileiros terão acesso facilitado a ETFs de índices asiáticos.
Desse modo, Saravalle acredita que o impacto inicial em volume será moderado, mas o potencial de longo prazo é imenso, com produtos mais acessíveis e de baixo custo. “É uma porta aberta para o investidor comum participar da integração financeira global”, destacou.
Ajustes regulatórios e salto institucional para o mercado
O avanço exigiu um esforço de harmonização regulatória entre os dois países, superando diferenças de idioma, moeda e estrutura legal. De acordo com Tatiana Rosito, secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, o programa “é um marco nas relações bilaterais e fortalece a interligação entre os mercados de capitais”.
Além disso, a diretora da CVM, Marina Copola, acrescentou que a iniciativa é tanto simbólica quanto prática. Atualmente, há três ETFs brasileiros baseados em índices chineses, reforçando a via de mão dupla entre os mercados.
Por fim, para Vasconcellos, a experiência pode inspirar novos acordos com Europa e EUA, transformando o ETF Connect em modelo de interoperabilidade financeira. “O Brasil passa a exportar credibilidade, governança e consistência, os pilares do capital de longo prazo”, concluiu.
Conteúdo publicado inicialmente pelo BM&C News.