
Os títulos da Braskem (BRKM5) denominados em dólar voltaram a sentir forte pressão no mercado após o governo de Alagoas entrar com uma nova ação judicial de R$ 4 bilhões contra a petroquímica, relacionada aos danos causados pelo colapso de uma de suas minas de sal-gema em Maceió.
A ofensiva judicial reacende um dos maiores desastres ambientais urbanos do país e amplia a incerteza sobre o futuro da companhia, que já vinha sob escrutínio devido ao interesse de aquisição por parte do empresário Nelson Tanure.
A ação foi ajuizada na semana passada e divulgada pela Defensoria Pública de Alagoas. O processo busca compensações adicionais para moradores que vivem nas bordas da área afetada, reforçando o passivo da Braskem, que já beira os R$ 18 bilhões. Desde a tragédia, mais de 14 mil imóveis foram desocupados e diversos bairros de Maceió desapareceram do mapa.
Em comunicado oficial, a Braskem informou que tomou conhecimento da ação pela imprensa e que está avaliando juridicamente os próximos passos. “Manteremos o mercado informado sobre qualquer desdobramento relevante”, declarou, sem comentários adicionais.
Mercado reage com cautela
Para os investidores, o momento é especialmente sensível. Os títulos da Braskem vêm acumulando perdas expressivas: em média, caíram 3,3% no último mês, desempenho inferior ao dos papéis corporativos da América Latina, que subiram 0,8% no mesmo período.
Segundo Filipe Botelho, analista da Lucror Analytics, a nova ação não estava no radar e “pode manter a dívida sob pressão no curto prazo”. Arturo Galindo, da BCP Securities, reforça que o nome Braskem tem reagido fortemente às manchetes. “Qualquer ruído adicional, como o de Alagoas, pode interferir. Ainda vemos a precificação dos títulos pressionada principalmente pelo interesse de Tanure.”
Tanure, um investidor de risco
A possível entrada de Nelson Tanure no controle da Braskem adiciona mais volatilidade. Conhecido por investir em empresas em dificuldades, como a Oi e a Light, Tanure carrega a fama de reestruturador agressivo — o que levanta temores entre os bondholders (detentores de títulos) sobre um possível “haircut”, ou corte no valor da dívida.
Embora ele não tenha sinalizado nenhuma reestruturação, a sua reputação no mercado de ativos estressados fala mais alto. E, segundo fontes ouvidas pelo Valor Econômico, uma proposta firme de compra da Braskem depende justamente de um acordo final sobre as compensações devidas em Alagoas.
Um acordo anterior com a Adnoc, estatal dos Emirados Árabes Unidos, naufragou em maio de 2024, frustrando as expectativas de uma venda estruturada. A indefinição sobre o passivo ambiental, somada às novas ações judiciais, afasta compradores e pressiona o valuation da empresa.
Um risco que pesa bilhões
Em janeiro, a Braskem já havia elevado as provisões para o desastre em R$ 1,3 bilhão, totalizando cerca de R$ 18 bilhões. Mesmo com esse aumento, a Fitch Ratings avaliou que o impacto seria diluído no tempo, já que os desembolsos ocorrem ao longo de mais de uma década.
Até agora, a empresa afirma ter desembolsado R$ 4,22 bilhões em indenizações e auxílios por meio do seu Programa de Compensação Financeira e Apoio à Realocação (PCF). No entanto, ainda não está claro quanto a nova ação judicial de Alagoas pode acrescentar às provisões totais.
“Um passivo contingente maior provavelmente faria qualquer comprador em potencial hesitar um pouco”, disse Omotunde Lawal, chefe de dívida corporativa de mercados emergentes da gestora Barings.