Energia em transição

Brava Energia tenta virar o jogo com Atlanta e Papa-Terra; mas mercado ainda desconfia

Empresa acelera produção, corta capex e aposta em novos métodos para reconquistar confiança dos investidores.

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Petróleo, petroleiras
Foto de Kokhanchikov
  • Produção da Brava subiu 21% no 2º tri, com melhora operacional em Atlanta e Papa-Terra
  • Papel negocia a 3,7x EBITDA, com desconto frente à Prio, mas mercado ainda hesita
  • Estratégia de foco em caixa e eficiência tenta reduzir alavancagem e virar página da 3R

No papel, a Brava Energia parece uma pechincha. Resultado da fusão entre Enauta e 3R Petroleum, a companhia já produz quase 86 mil barris por dia e negocia a múltiplos bem abaixo dos pares. Ainda assim, parte relevante do mercado segue reticente em apostar na ação.

A principal trava está no histórico: entregas frustradas, problemas técnicos e dúvidas sobre execução marcam a trajetória recente da empresa, especialmente na antiga 3R Petroleum. Apesar dos esforços de reestruturação, analistas querem ver resultados consistentes antes de embarcar na tese.

Produção cresce, mas confiança ainda vacila

No segundo trimestre, a produção da Brava cresceu 21% em relação ao trimestre anterior. Segundo o CEO Décio Oddone, essa tendência deve continuar, especialmente por causa da base de comparação fraca do fim de 2023, quando as operações de Atlanta e Papa-Terra foram totalmente paralisadas.

Essas paralisações, causadas por atrasos regulatórios e manutenção de FPSOs, derrubaram a geração de caixa e elevaram a alavancagem da companhia. A relação dívida líquida/EBITDA saltou para 3,8x no fim do primeiro trimestre, acendendo alertas entre gestores.

Desde que assumiu o comando em agosto passado, Oddone vem redesenhando a estratégia da Brava. O foco agora está em corte de custos, priorização de projetos com retorno mais previsível e recuperação operacional dos ativos.

O campo de Atlanta, por exemplo, atingiu seu maior nível de produção trimestral desde o início da operação. Já Papa-Terra voltou a funcionar com maior eficiência após a reativação do sistema de reinjeção de água, reduzindo a necessidade de novas perfurações.

Papa-Terra: promessa ou armadilha?

Apesar da retomada, o campo de Papa-Terra continua sendo o ponto mais controverso da tese Brava. Muitos analistas ainda veem o ativo como geologicamente complexo, com histórico de custos altos e produção instável.

Oddone, no entanto, acredita no potencial do campo. Para ele, Papa-Terra pode ser o motor de geração de caixa da empresa. Para isso, a companhia contratou a gigante McDermott para instalar novos sistemas submarinos, com o objetivo de estabilizar e ampliar a produção.

A retomada da confiança, no entanto, depende de consistência. O mercado quer ver trimestres seguidos de produção estável e custos controlados para reavaliar o ativo. Por ora, a percepção é de que Papa-Terra continua carregando riscos relevantes.

A estratégia da Brava é clara: investir com cautela e extrair o máximo dos ativos existentes. O desafio está em provar, com números, que o campo pode ser sustentável no longo prazo, algo que a antiga 3R nunca conseguiu demonstrar plenamente.

Onshore e Brent seguem como desafios

Nos campos onshore, a Brava recuou de uma tentativa de venda após receber propostas pouco atrativas. Apesar das críticas do mercado, que vê a operação como um “ralo de capital”, Oddone defende que esses ativos geram fluxo de caixa estável e de baixo risco.

Para aumentar a eficiência, a empresa adotou o método casing drilling, inédito no Brasil. A técnica reduz em até 20% os custos de perfuração e melhora a segurança, contribuindo para a estratégia de preservar caixa sem abrir mão da produção.

Mesmo com essas medidas, há um fator que escapa ao controle da gestão: o preço do petróleo. A Brava é altamente sensível ao Brent, pois tem estrutura de custos e capex elevado. Se o barril cair abaixo de US$ 60, parte da tese pode ruir.

Atualmente, o lifting cost está em US$ 20 por barril, mas Oddone afirma que esse número vem caindo com a recuperação operacional. A meta é ter um portfólio que funcione sob qualquer cenário de preço, embora o desafio seja enorme.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.