
- Cosan levantará R$ 10 bilhões com aporte de BTG e Perfin, mas diluição e desconto na oferta derrubaram ações em mais de 20%.
- Governança da transação gera críticas, pois minoritários ficaram sem preferência e foram prejudicados em relação a grandes investidores.
- Analistas dividem opiniões: parte vê risco elevado no curto prazo, enquanto a XP recomenda compra com preço-alvo de R$ 17.
O mercado reagiu de forma dura ao anúncio da Cosan (CSAN3). A companhia informou que levantará R$ 10 bilhões por meio de um aporte dos fundos do BTG Pactual e da Perfin, mas a operação trouxe efeitos imediatos sobre as ações. Nesta segunda-feira (22), os papéis recuaram 20,8%, negociados a R$ 5,94 por volta das 14h30.
Embora o objetivo declarado seja reduzir o endividamento de R$ 23,5 bilhões, a operação foi mal recebida pelos investidores. Isso porque a precificação dos novos papéis saiu a R$ 5,00 cada, bem abaixo dos R$ 7,50 do fechamento anterior. Além disso, a diluição do acionista minoritário aumentou a desconfiança quanto à governança da empresa.
Oferta bilionária e efeito imediato no mercado
O aporte será feito por meio de oferta primária de ações, sem direito de preferência para minoritários. Com isso, o controlador Rubens Ometto manteve 50,01% do capital ordinário, mas passou a dividir a base de controle com BTG e Perfin, que assumem juntos 49,99%.
Para analistas, o impacto negativo decorre não apenas do desconto no preço, mas também da diluição de até 17,3% para quem não aderir à emissão. Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, destaca que o mercado enxergou a medida como sinal de dificuldade da Cosan em captar recursos de forma menos onerosa.
Segundo Alexandre Pletes, da Faz Capital, a entrada dos novos sócios não resolve todos os problemas, mas reduz a pressão de curto prazo. “É um alívio parcial, mas ainda falta um plano robusto para geração de caixa”, disse.
Governança e favoritismo a grandes investidores
O desenho da transação levantou críticas. Para Artur Horta, da TheLink Investimentos, o acordo favoreceu BTG e Perfin, que ganharam posição de destaque no bloco de controle. Já os minoritários ficaram de fora do processo decisório e ainda sofreram forte diluição.
A XP Investimentos avalia que o impacto inicial é negativo, mas pode gerar valor no médio prazo. Pelos cálculos, seria necessário criar até R$ 3,2 bilhões em valor adicional para compensar a perda relativa dos minoritários. Essa projeção, contudo, depende da capacidade de a companhia retomar eficiência e reduzir dívidas.
O CEO da Cosan, Marcelo Martins, afirmou que a capitalização é estratégica para “combinar desalavancagem com crescimento”. No entanto, o mercado ainda mostra cautela em relação à governança.
O que fazer com as ações agora
Diante do tombo, analistas divergem. Horta não vê atratividade imediata, já que a empresa precisa provar consistência de caixa e capacidade de pagar dividendos relevantes. Pletes indica que o papel só faz sentido perto dos R$ 5,00, o valor da oferta, pois a diluição deve manter pressão sobre a cotação.
Lima, por outro lado, aponta que existe oportunidade para investidores dispostos a assumir risco e esperar resultados no médio prazo. A XP, mais otimista, recomenda compra com preço-alvo de R$ 17 em 12 meses, o que implicaria valorização de mais de 120% sobre o fechamento da última sexta-feira (19).
Mesmo assim, a corretora alerta que a Cosan é um dos casos de análise mais complexos da Bolsa brasileira, com decisões de capital de longo prazo que podem não se alinhar ao horizonte de investidores pessoa física.