O BTG Pactual revisou nesta quarta-feira (12) suas estimativas para o dólar no final de 2024, elevando a projeção de R$ 5,80 para R$ 6,25. O banco alertou ainda para o risco de o câmbio ultrapassar R$ 7, caso haja uma deterioração significativa no cenário fiscal brasileiro. A revisão veio em meio à volatilidade do mercado e ao impacto de políticas fiscais e monetárias.
Cenário fiscal pressionado
De acordo com Iana Ferrão, economista da equipe de macroeconomia do banco, “ações do governo que contornem o orçamento, intensifiquem mecanismos parafiscais, minem a credibilidade da política monetária ou envolvam intervenções no mercado cambial teriam potencial de levar o câmbio a ultrapassar a barreira de R$ 7 no próximo ano”. O relatório também destacou que 70% da desvalorização de 25% do real neste ano decorrem de fatores domésticos, enquanto os 30% restantes estão relacionados ao ambiente externo.
A revisão ocorre em um contexto de decepção com as medidas de contenção de gastos apresentadas pelo governo e à persistência de incertezas fiscais. O pacote de cortes anunciado anteriormente foi considerado insuficiente pelos mercados, refletindo no desempenho cambial.
Taxa de juros em alta
Mesmo com a elevação da taxa Selic para 12,25% pelo Banco Central e a sinalização de um piso de 14,25% para março de 2025, o impacto positivo no câmbio foi limitado. O BTG projeta que a taxa básica de juros pode atingir 14,75% em maio, mas isso pode não ser suficiente para conter a pressão sobre o dólar. “O choque de credibilidade trazido pelo Banco Central não reverteu totalmente as expectativas do mercado”, afirmou Ferrão.
Superávit comercial ampliado
O câmbio desvalorizado, por outro lado, deve impulsionar o superávit comercial. O banco projeta um saldo de US$ 75 bilhões para 2024, crescendo para US$ 87 bilhões em 2025. Segundo Ferrão, “um câmbio mais depreciado deve favorecer as exportações, especialmente em commodities, garantindo maior competitividade internacional para os produtos brasileiros”.
No entanto, o relatório aponta que, em um cenário otimista e menos provável, o dólar poderia recuar para R$ 5,20 em 2025, caso medidas de sustentabilidade fiscal sejam implementadas. “A implementação de medidas claras e críveis de comprometimento com a dívida pública poderia promover um realinhamento das expectativas e uma apreciação significativa do real”, destacou a economista.
Para 2026, o BTG Pactual estima um dólar a R$ 6,35, refletindo uma combinação de fatores internos e externos, incluindo o desempenho da economia norte-americana e o diferencial de juros entre os EUA e outras economias avançadas.