
- IGP-M cai 0,77% em julho, menos que os -0,90% esperados
- Preços ao produtor desaceleram, mas petróleo e minério pressionam
- Inflação ao consumidor avança com alta em passagens, energia e alimentos
O IGP-M, conhecido como “inflação do aluguel”, recuou 0,77% em julho, mostrando desaceleração frente à queda de 1,67% registrada em junho. Apesar da nova retração, o índice caiu menos do que o previsto por analistas consultados pela Reuters, que esperavam uma baixa de 0,90%.
Com o resultado do mês, o IGP-M acumula alta de 2,96% nos últimos 12 meses. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira (30) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com destaque para o comportamento menos deflacionário dos preços ao produtor, puxados por petróleo, minério e grãos.
Pressão no atacado limita alívio nos preços
O IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo), que representa 60% do IGP-M, registrou queda de 1,29% em julho. Embora tenha se mantido em terreno negativo, a queda foi menos intensa do que a observada em junho, quando o índice recuou 2,53%.
Segundo Matheus Dias, economista do FGV IBRE, a desaceleração reflete menor alívio nas cotações de matérias-primas minerais e do petróleo. Esses itens voltaram a exercer pressão sobre o atacado, limitando o efeito deflacionário das commodities agrícolas.
O grupo Matérias-Primas Brutas caiu 1,79%, após retração de 4,68% em junho. Já os Bens Intermediários recuaram 0,99%, frente a uma queda anterior de 1,30%, e os Bens Finais passaram de -0,54% para -0,87%.
Itens como café em grão (-22,52%), milho (-7,54%), batata-inglesa (-29,63%) e farelo de soja (-4,94%) continuam entre os principais responsáveis pela queda dos preços, mas a redução foi menor do que a vista nos meses anteriores.
Inflação ao consumidor volta a acelerar
O IPC (Índice de Preços ao Consumidor), que responde por 30% do IGP-M, subiu 0,27% em julho, após alta de 0,22% em junho. A aceleração ocorre após três meses de desaceleração consecutiva no índice que mede os preços no varejo.
De acordo com a FGV, o avanço foi provocado por aumentos disseminados em grupos como habitação, alimentação e despesas diversas. Essa tendência reforça o sinal de alerta em relação ao comportamento da inflação sentida pelas famílias.
Entre os destaques de alta estão o mamão papaia (+20,11%), que havia caído no mês anterior (-11,28%), a passagem aérea (+6,29%, ante 3,39%), a tarifa de eletricidade residencial (+2,74%) e o jogo lotérico (+7,15%).
A elevação de preços em itens voláteis e serviços preocupa o mercado, pois reduz o espaço para alívio inflacionário no curto prazo. Além disso, reforça a dificuldade do Banco Central em ancorar as expectativas diante de choques persistentes.
Construção civil também registra desaceleração
O terceiro componente do IGP-M, o INCC (Índice Nacional de Custo da Construção), teve alta de 0,91% em julho. O resultado mostra leve desaceleração frente ao avanço de 0,96% registrado em junho, mas segue pressionando o setor de construção.
Esse comportamento reflete o impacto de reajustes salariais e custos de materiais, embora com menor intensidade neste mês. Ainda assim, o segmento continua acumulando inflação acima da média geral dos preços.
Vale lembrar que o IGP-M é utilizado como referência em reajustes de contratos de aluguel, tarifas públicas e financiamentos. A variação ocorre entre os dias 21 do mês anterior e 20 do mês de referência, sendo um dos índices mais monitorados pelo mercado.
Com a desaceleração menos intensa, o indicador sugere que os riscos inflacionários seguem no radar, especialmente se houver novas pressões sobre commodities e serviços nos próximos meses.