
- Normalização dos spreads de risco sacado pode reduzir fortemente as despesas financeiras
- Retomada da confiança de seguradoras e fornecedores é chave para liberar fluxo de caixa
- Genial mantém recomendação neutra para BHIA3, com preço-alvo de R$ 4,50
A Genial Investimentos trouxe novo fôlego para quem acompanha o drama das Casas Bahia (BHIA3). Em relatório, a corretora listou três pontos que poderiam devolver a empresa ao lucro e destravar o valor da ação, que hoje ainda carrega os efeitos da reestruturação pesada.
Segundo os analistas, o alívio viria de uma combinação: normalização dos spreads de risco sacado, recomposição dos limites de seguradoras e redução do volume financiado a custos elevados. Se isso se confirmar, a despesa financeira pode cair em centenas de milhões de reais nos próximos anos.
O que mudou no jogo
A Genial lembra que, até 2023, o seguro de crédito era visto quase como burocracia. Mas a crise da Americanas virou a chave: sem cobertura, fornecedores não entregam grandes volumes.
No caso das Casas Bahia, a dificuldade começou ainda antes, em 2022, quando o mercado de dívida se fechou e a Selic disparou. A companhia passou a usar risco sacado como válvula de escape.
Esse arranjo encarece o crédito: a empresa alonga prazos via banco, mas assume o custo. Na prática, é como se tomasse empréstimo caro disfarçado, travando margens e a confiança do mercado.
Três cenários possíveis
O primeiro cenário desenhado pela corretora prevê saldo de R$ 1,5 bilhão em risco sacado e spread em 130% do CDI a partir de 2026. O impacto seria limitado, com alívio em torno de R$ 114 milhões em 2026.
Já o segundo cenário combina redução do risco sacado à metade e spread normalizado, o que geraria economia anual acima de R$ 280 milhões a partir de 2026. Aqui, o mercado poderia começar a reprecificar a tese.
No terceiro cenário, a eliminação completa do risco sacado a partir de 2026 liberaria até R$ 500 milhões por ano. Para a Genial, esse caso não está no preço atual da ação, mas mostra o tamanho do potencial de destravamento.
Receita e projeções
Com essas mudanças, a Genial projeta que as receitas da Casas Bahia cresçam acima da inflação nos próximos anos, com CAGR de 5,9% entre 2025 e 2028.
Esse crescimento seria puxado pelo crédito próprio, que tem avançado a dois dígitos, e por estímulos adicionais em 2026, ano de Copa e eleições.
A corretora estima que, para alcançar equilíbrio, a companhia teria de entregar margem EBITDA próxima de 11% e reduzir a despesa financeira para 7,4% da receita, bem abaixo dos atuais 13,2%.
E para o investidor?
Apesar da simulação otimista, a Genial mantém recomendação neutra para BHIA3, com preço-alvo de R$ 4,50, apenas 2,7% acima da cotação atual.
O analista Iago Souza explica que a recuperação depende de eventos ainda de baixa visibilidade. A sequência certa de ajustes pode destravar valor, mas não há garantias de execução.
Ou seja: há potencial, mas também riscos consideráveis. Por isso, a corretora trata o upside como opcionalidade, não como cenário-base.