
- Investimento chinês no Brasil dobrou em 2024 e alcançou US$ 4,2 bilhões, recorde em número de projetos.
- País virou o 3º destino global do capital chinês, atrás apenas de Reino Unido e Hungria.
- Entrada de novas empresas pode acirrar a competição e reconfigurar setores estratégicos na Bolsa.
O Brasil viveu em 2024 um salto histórico no radar de Pequim. O investimento direto chinês por aqui avançou 113%, somando US$ 4,2 bilhões, e transformou o país no terceiro maior destino global desse capital, o primeiro fora da Europa. O movimento ocorre em meio à escalada da guerra comercial entre China e Estados Unidos, que empurra empresas chinesas para novos mercados emergentes.
O estudo do CEBC (Conselho Empresarial Brasil-China) revela que os chineses ampliaram a diversificação: energia continua sendo o carro-chefe, mas projetos em veículos elétricos, tecnologia e até delivery entraram no mapa. Foram 39 iniciativas no ano, um recorde, contra o perfil concentrado do passado em petróleo e linhas de transmissão.
Competição e gargalos
Para o governo, a entrada chinesa promete acirrar a competição. “É um choque de competitividade no setor industrial brasileiro”, disse Uallace Moreira, secretário do MDIC.
Mas há ressalvas: muitas fábricas montam no Brasil peças importadas da China, o que limita a geração de empregos e o fortalecimento da cadeia local. Some-se a isso os desafios de custo Brasil, como a carga tributária e leis trabalhistas rígidas, que ainda travam parte da expansão.
Casos como a investigação trabalhista contra a BYD, acusada de manter trabalhadores em condições análogas à escravidão em um canteiro de obras, mostram que o processo de adaptação das companhias ao ambiente regulatório brasileiro será determinante.
Geopolítica no pano de fundo
Enquanto Pequim recua de Washington, apenas US$ 2,2 bilhões foram investidos nos EUA em 2024, o Brasil colhe os frutos do realinhamento global. Lula e Xi Jinping se encontraram duas vezes no último ano, reforçando pontes diplomáticas em contraste com as tarifas impostas pelo governo Trump.
Mesmo assim, os EUA seguem como a principal fonte de investimento estrangeiro no Brasil, com US$ 8,5 bilhões em 2024.
Ainda que a China não tenha retomado o patamar de 2015-2019, quando aplicava em média US$ 6,6 bilhões por ano, a mudança qualitativa chama atenção: mais projetos, mais setores e mais presença.
Mercado em alerta
Na Faria Lima, analistas já projetam impactos no mercado acionário, especialmente em papéis ligados a energia, mobilidade elétrica e logística.
A entrada de players chineses pode reduzir margens de empresas locais, mas também gerar parcerias estratégicas e fusões no médio prazo.
Portanto, empresas como WEG, Embraer e até varejistas de e-commerce já aparecem em relatórios como potenciais alvos de joint ventures com grupos asiáticos, em uma disputa que deve remodelar cadeias de valor e alterar fluxos de capital.