
A salvação da Casas Bahia (BHIA3) parece ter encontrado um caminho, mas o preço cobrado pode ser alto — especialmente para os acionistas atuais. Com a entrada da Mapa Capital como nova controladora a partir de agosto, o futuro da empresa começa a ganhar contornos mais claros. Mas, afinal, como isso afeta quem já tem ações da varejista?
Segundo Carlos Honorato, professor da FIA Business School, o raciocínio é simples: “É melhor você ter participação menor em um negócio que pode caminhar para uma melhora do que ter uma fatia mais gorda de uma empresa semi-falida”. E é exatamente isso que está em jogo com a reestruturação em curso.
Mapa Capital assume o controle e dilui os antigos sócios
A Mapa Capital, gestora especializada em empresas em dificuldade, assumirá o controle da Casas Bahia por meio da conversão de R$ 1,6 bilhão em debêntures em ações.
A expectativa, segundo cálculos da analista Larissa Quaresma, da Empiricus, é que isso leve a uma diluição de cerca de 80% para os acionistas atuais. Na prática, a Mapa ficaria com pouco mais de 80% da empresa.
A reestruturação é considerada um passo crucial para manter a companhia de pé. A varejista chegou ao 1T25 com R$ 4,3 bilhões em dívida bruta e R$ 408 milhões de prejuízo, com o custo da dívida comprometendo diretamente seus resultados.
A conversão da dívida em ações alivia essa pressão — retirando um terço do passivo e reduzindo também os juros pagos.
“A conversão mexe exatamente onde dói para a Casas Bahia: no resultado financeiro”, diz Iago Souza, da Genial Investimentos. A estimativa é que o alívio nos juros represente mais de R$ 160 milhões em impacto positivo ao ano.
E para os acionistas? Diluição é amarga, mas pode trazer novo fôlego
Apesar de a operação ser positiva para a empresa, o mesmo não pode ser dito com tanto entusiasmo para quem já é sócio. A forte diluição dos papéis ajuda a explicar a queda de quase 22% nas ações BHIA3 desde o anúncio da conversão.
Mas especialistas recomendam calma. Para quem já tem os papéis, a indicação predominante é de manutenção. Segundo Souza, “o mercado ainda não precificou a nova realidade da Casas Bahia. Quando a conversão for feita, aí sim os investidores vão reavaliar o valor justo da ação”.
Além disso, a Mapa Capital impôs um lock-up gradual de 16 meses, comprometendo-se a não vender todas as ações de uma vez. Isso mostra intenção de participar do processo de reestruturação e evitar pressão adicional sobre o preço dos papéis.
Quem está de fora deve esperar
Para quem não é acionista, o consenso é de prudência. “As contas da empresa não oferecem espaço para imprevistos”, alerta Paola Mello, sócia da GTI Administração. Ela vê algum potencial caso o novo controlador adote medidas fora do radar, como a venda de ativos — por exemplo, a Bartira, fábrica de móveis do grupo.
Mas, por ora, a recomendação é observar. “Prefiro assistir de fora e torcer para que consigam salvar a empresa. Depois do caso Americanas, o mercado não precisa de outro escândalo no varejo”, finaliza Mello.