Copom Eleva a Selic para 12,25% em Meio ao Aperto Monetário
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, de forma unânime, elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual (p.p.) na reunião realizada hoje (11). Com essa alta, a Selic passa de 11,25% para 12,25% ao ano. A decisão, que surpreendeu alguns investidores, reflete a continuidade do ciclo de aperto monetário adotado pelo Banco Central em resposta à pressão inflacionária e ao cenário econômico desafiador.
Essa elevação ocorre após uma alta de 0,50 p.p. na reunião de novembro, o que já sinalizava que o Comitê poderia acelerar o ritmo de elevações da Selic. O mercado, por sua vez, já antecipava esse movimento, visto que a inflação continua sendo um fator relevante na condução da política monetária. Com a Selic mais alta, o Banco Central tenta conter a pressão sobre os preços e controlar a inflação, que permanece acima das metas estipuladas.
Contexto
O que parecia ser uma das apostas mais promissoras para investidores no Brasil se transformou em uma das operações mais dolorosas de 2024. Grandes bancos de Wall Street, como Morgan Stanley, Bank of America, JP Morgan e Barclays, recomendaram estratégias de investimento focadas em posições que se beneficiariam com a queda das taxas de juros futuros no Brasil. A expectativa era de que o corte da taxa básica de juros do Federal Reserve (Fed) fosse o catalisador para uma política monetária mais flexível em várias economias emergentes, com destaque para o Brasil, que registrava uma taxa de juro real de 6%.
Entretanto, a realidade tem sido bem diferente. Ao longo do ano, o mercado brasileiro viu uma desconexão significativa em relação a outros países da América Latina. O contrato de juros futuros com vencimento em janeiro de 2026, por exemplo, subiu mais de 470 pontos base (ou 4,7 pontos percentuais). Em comparação, contratos semelhantes no México e no Chile apresentaram variações bem menores no mesmo período. A volatilidade dos mercados brasileiros foi intensificada por um “sell-off” generalizado, impulsionado em grande parte por fundos locais que, céticos quanto ao compromisso do governo de Luiz Inácio Lula da Silva com a austeridade fiscal, começaram a reverter suas apostas.
“Investir no Brasil provou ser uma catástrofe”, disse Luis Estrada”.
estrategista da RBC Capital Markets ao jornal Valor Econômico.
A desconfiança em relação às ações fiscais do governo, especialmente no tocante ao crescente déficit orçamentário, motivou os traders a ajustar suas expectativas de forma drástica. Em junho, quando o Banco Central parecia manter uma política monetária flexível, as apostas em novos cortes de juros rapidamente desapareceram, substituídas por previsões de aumento das taxas.
O pior cenário veio no final de novembro, quando o presidente Lula anunciou uma isenção de imposto de renda para transações de até R$ 5 mil, como parte de um pacote fiscal que havia sido aguardado com grande expectativa pelos investidores. A medida, ao invés de fortalecer a confiança no governo, foi vista como um sinal de fraqueza fiscal, exacerbando as preocupações de que o presidente não estava comprometido com um ajuste fiscal rigoroso.
Os investidores reagiram rapidamente: os juros dispararam e o dólar alcançou seu maior valor histórico em relação ao real. No mercado, as expectativas agora giram em torno de um aumento de 1 ponto percentual na taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) prevista para esta quarta-feira, o que representaria o dobro do aumento da última reunião. Para janeiro, espera-se um movimento semelhante. A correção das expectativas de juros reflete a crescente incerteza em relação à política econômica do país.
No entanto, a dinâmica também gerou uma mudança no comportamento dos investidores estrangeiros. Muitos, inicialmente otimistas com o potencial de recuperação do Brasil, começaram a revisar suas apostas e a reduzir sua exposição ao risco. O temor de uma escalada fiscal e a alta volatilidade afastaram alguns investidores, que agora aguardam uma maior estabilidade antes de voltarem a apostar nos ativos brasileiros.
Com a inflação controlada, mas com a incerteza fiscal pairando sobre o mercado, o Brasil se vê em um momento crucial para suas políticas monetárias e fiscais. A volatilidade dos mercados deve continuar enquanto o governo tenta alinhar suas promessas fiscais com as expectativas dos investidores, buscando, assim, restaurar a confiança nas suas políticas e estabilizar o ambiente econômico do país.