
- Copom deve manter Selic em 15%, mas comunicado pode alertar para riscos do tarifaço e cenário externo.
- Inflação fora da meta adia cortes para 2026, apesar de dados econômicos apontarem desaceleração.
- Investidores devem priorizar CDI e renda fixa, mantendo foco no longo prazo e atenção ao risco político.
O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central se reúne nesta quarta-feira (30) e deve manter a taxa Selic em 15% ao ano, segundo consenso de mercado. A decisão em si já está precificada, mas especialistas alertam que o comunicado pode carregar um novo tom diante da pressão externa.
Com o tarifaço de Donald Trump prestes a entrar em vigor, cresce a expectativa de que o Banco Central reconheça o aumento da incerteza no cenário global. Esse detalhe, embora não mude a taxa agora, pode mexer com as projeções de longo prazo e afetar diretamente a estratégia de quem investe.
Juros firmes, mas ambiente mais instável
A manutenção da Selic em 15% está praticamente selada, segundo os principais analistas. Apesar disso, a grande atenção nesta reunião do Copom recai sobre o comunicado que será divulgado em seguida. O mercado espera que o Banco Central reconheça o impacto do tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros.
De acordo com Bruno Fratelli, da Journey Capital, o Copom deve adotar um tom mais cauteloso. “O comunicado pode trazer uma menção explícita ao risco adicional trazido pelas tarifas de Trump”, afirma. O economista destaca que o cenário externo incerto adiciona volatilidade às decisões futuras.
Mesmo que a política monetária não mude neste momento, o ambiente mais tenso pode afetar projeções. “O Banco Central vai manter o tom firme e sinalizar comprometimento com o controle da inflação”, complementa Gustavo Sung, da Suno Research.
Dados econômicos ainda não justificam corte
Apesar da desaceleração da atividade econômica, a autoridade monetária ainda não encontra espaço para reduzir os juros. O IBC-Br de maio caiu 0,7%, sinalizando retração na indústria e fraqueza no comércio. Além disso, o Boletim Focus reduziu a projeção de inflação para 2026, agora em 4,45%.
Ainda assim, economistas alertam que o movimento é incipiente. “É cedo demais para o BC reagir. A inflação não está na meta, e isso exige vigilância”, diz Igor Barenboim, da Reach Capital. Ele afirma que cortes só devem acontecer em 2026, se a tendência de desaceleração se confirmar.
A meta inflacionária brasileira está em 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual. Assim, apenas quando a inflação convergir para o centro da meta é que o ciclo de cortes poderá começar. A projeção da Suno também aponta para reduções graduais só a partir do próximo ano.
Onde investir com juros em 15%?
Com a Selic ainda em nível elevado, a renda fixa continua atrativa. Barenboim recomenda manter boa parte da carteira atrelada ao CDI, que oferece retorno interessante. Para quem tem mais apetite ao risco, ele vê espaço para aplicar em Bolsa, prefixados e papéis atrelados à inflação.
“Quem acredita em uma melhora do Brasil nos próximos 18 meses pode dobrar o retorno”, afirma. Mesmo com os riscos fiscais e eleitorais no radar, há oportunidades para ganhos expressivos. A dica é diversificar com equilíbrio e manter alguma exposição a ativos de longo prazo.
Sung reforça a mesma linha: seguir a estratégia e não agir por impulso. “Uma carteira resiliente é essencial. E a renda fixa segue como porto seguro com Selic a 15%”, aponta. Já Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, defende o foco em pós-fixados, que ainda apresentam ótima relação risco-retorno.
Tarifaço e cenário externo no radar
O comunicado do Copom também pode abordar o impacto das tarifas de 50% anunciadas por Trump. Para Barenboim, o efeito sobre a inflação brasileira será limitado, mas ainda assim relevante para o cenário macro. “Não dá para estimar o impacto com precisão, mas o risco existe”, afirma.
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve também adota postura cautelosa. Sidney Lima lembra que os dirigentes do Fed preferem errar por excesso de prudência. A expectativa de cortes nos EUA só deve se concretizar a partir de setembro, com dois ajustes previstos até o fim do ano.
A percepção inicial de desastre com o tarifaço se mostrou exagerada. “Agora, o impacto esperado é de 50 pontos-base por ano”, diz Barenboim. Mesmo assim, os juros devem continuar firmes no curto prazo, tanto aqui quanto lá fora. Isso exige paciência e estratégia dos investidores brasileiros.