
- O metal precioso superou os US$ 3.500 pela primeira vez, impulsionado pela busca global por segurança em meio às incertezas econômicas
- Com o aumento da tensão entre EUA e China e a instabilidade nas políticas monetárias, o ouro voltou a se destacar como principal ativo
- As projeções de manutenção ou corte dos juros nos EUA e a valorização de moedas asiáticas intensificam o movimento de alta
Os mercados globais iniciaram esta terça-feira (22) em clima de cautela, impulsionados por movimentos expressivos no ouro, que superou a marca histórica de US$ 3.500 pela primeira vez.
Esse salto reflete a intensificação da busca por ativos considerados mais seguros, em meio ao temor crescente sobre a condução da política monetária nos Estados Unidos e a escalada nas tensões comerciais com a China.
Enquanto os contratos futuros do S&P 500 avançavam cerca de 1%, investidores monitoravam com atenção os rumores sobre a possível substituição de Jerome Powell na presidência do Federal Reserve.
A incerteza sobre a estabilidade do comando do Fed reforçou o receio de volatilidade à frente. Ainda, em um cenário já sensível devido aos impactos das tarifas comerciais impostas pelo governo Trump.
Analistas, como Lee Liang Le, da Kallanish Index Services, destacaram que a forte valorização do ouro neste ano revela uma quebra de confiança nos mercados norte-americanos.
“A narrativa do ‘Trump Trade’ evoluiu para uma narrativa de ‘venda da América’”, afirmou Le. Com isso, a tradicional função do dólar e dos títulos do Tesouro como refúgio em tempos de estresse começa a ser colocada em xeque.
Dólar e iene se movem em meio às expectativas de juros
O dólar se manteve estável frente a outras moedas importantes. Enquanto, o iene japonês apresentou valorização significativa, ultrapassando 140 ienes por dólar pela primeira vez desde setembro.
A valorização da moeda japonesa veio na esteira das expectativas de que o Banco do Japão continuará elevando os juros. Dessa forma, contrariando a tendência global de cortes.
Ao mesmo tempo, a China permitiu uma desvalorização do yuan, o que pode indicar uma tentativa de tornar suas exportações mais competitivas em meio à intensificação da guerra comercial com os EUA.
Essa medida também serve como um contrapeso aos efeitos das tarifas norte-americanas. Contudo, elevando o clima de tensão entre as duas maiores economias do mundo.
A possível saída de Powell do comando do Fed aumentou o nervosismo nos mercados. Investidores temem que a troca na presidência provoque mudanças bruscas na política monetária.
John Velis, estrategista do Bank of New York Mellon, destacou que os ativos considerados porto seguro, como os títulos do Tesouro dos EUA, estão perdendo essa característica diante da pressão política interna.
Europa recua e negociações comerciais
Na Europa, o índice Stoxx 600 recuou com o retorno dos investidores após o feriado da Páscoa. O tombo de mais de 10% das ações da Novo Nordisk A/S, diante da concorrência crescente do medicamento experimental da Eli Lilly para perda de peso, contribuiu para o pessimismo nos mercados europeus.
No campo geopolítico, os EUA e a China seguem tentando administrar o conflito comercial. Uma delegação japonesa de alto escalão entregará uma carta do primeiro-ministro Shigeru Ishiba ao presidente chinês Xi Jinping. Assim, numa tentativa de conter a escalada das tensões.
Pequim já alertou os países para não firmarem acordos com Washington que prejudiquem os interesses chineses.
Além disso, os EUA anunciaram “progresso significativo” nas conversas bilaterais com a Índia. Após encontro entre o vice-presidente americano JD Vance e o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, os países sinalizaram avanço rumo a um novo acordo comercial. Enquanto isso, a Tailândia adiou as negociações ministeriais com os EUA, em reação às ameaças de Trump de impor tarifas de 36% sobre produtos tailandeses.
Para Jun Rong Yeap, estrategista da IG Asia, os mercados parecem começar a precificar um desfecho menos favorável nas negociações tarifárias.
“As negociações provavelmente vão se arrastar por mais tempo”, alertou Yeap, ressaltando que o otimismo já começa a se dissipar entre os investidores.