
- R$ 615 bilhões movimentados em CRIs, CRAs e debêntures nos sete primeiros meses de 2025.
- Corrida pela isenção de IR faz investidores pessoas físicas entrarem em peso.
- Especialistas alertam para riscos de liquidez, crédito e falta de informação.
O mercado de debêntures, CRIs e CRAs atingiu um volume recorde de R$ 615 bilhões nos sete primeiros meses de 2025, alta de 14% frente ao ano passado. O avanço é puxado pelas debêntures, que sozinhas movimentaram R$ 488 bilhões.
A corrida tem explicação clara: esses papéis incentivados vão perder a isenção de Imposto de Renda a partir de 2026. Assim, investidores, principalmente pessoas físicas, estão disputando espaço para garantir a vantagem tributária antes que ela acabe.
Explosão no volume
Em 2021, o volume não chegava a R$ 210 bilhões, mas cinco anos depois a cifra quase triplicou. O movimento é explicado pela atratividade da renda fixa em tempos de juros elevados e pelo benefício fiscal.
Apesar do recorde em valores, a quantidade de papéis negociados caiu. Foram 6,2 bilhões de títulos em 2025, contra 10,5 bilhões em 2024. Ao mesmo tempo, o número de operações aumentou para 2,5 milhões, mostrando maior entrada de pessoas físicas no mercado.
Esse aumento da pulverização indica que investidores individuais estão comprando volumes menores, mas em maior frequência, algo típico da busca por diversificação e proteção.
Onde mora o risco
Especialistas alertam que esses produtos são mais complexos do que parecem. Cada emissão tem regras próprias, diferentes garantias e remunerações. Além disso, os títulos não contam com proteção do FGC, o que eleva o risco em caso de calote.
Um exemplo recente foi o caso da securitizadora Virgo, acusada de usar indevidamente R$ 216 milhões de fundos de reserva de CRIs e CRAs, o que gerou dúvidas sobre governança e transparência no setor.
Esse episódio reforça que, mesmo sendo renda fixa, os riscos não podem ser ignorados. Por isso, analistas recomendam acompanhamento de agências de rating e apoio profissional para avaliar emissões específicas.
Olho na liquidez
Outro ponto sensível é a liquidez. Muitos papéis têm vencimento de longo prazo e podem ser difíceis de vender no mercado secundário. O investidor que compra hoje pode até lucrar na revenda, já que os títulos emitidos até dezembro continuarão isentos de IR, mas não há garantia de preço vantajoso no futuro.
Para pessoas físicas, a falta de informações claras é um desafio adicional. Diferente das ações, esses ativos não têm cotações públicas diárias. Isso pode dificultar a avaliação justa e levar a decisões mal informadas.
O aumento da procura, portanto, mostra tanto o interesse crescente do brasileiro em investimentos sofisticados quanto a necessidade de educação financeira e mais transparência nesse mercado.