Dor de cabeça

Crise do agro derruba Banco do Brasil e abre espaço para Itaú, Bradesco e Santander

Inadimplência recorde em crédito rural ameaça hegemonia do BB, enquanto concorrentes privados avaliam avançar sobre o setor.

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  • Inadimplência da carteira rural do BB subiu a 3,49%, quase o triplo de 2024
  • Crise abre espaço para Itaú, Bradesco e Santander disputarem o crédito agrícola
  • Especialistas apontam o Plano Safra e o uso de tecnologia como saídas para conter o avanço da inadimplência

O agronegócio, tradicional motor do Banco do Brasil (BBAS3), virou motivo de dor de cabeça para a estatal em 2025. A inadimplência da carteira de crédito rural explodiu para 3,49% no 2º trimestre, quase o triplo do registrado há um ano, e colocou o banco em alerta.

Com 808 clientes em recuperação judicial e mais de 20 mil produtores inadimplentes, o BB enfrenta uma crise que ameaça sua posição histórica de líder no crédito agrícola. A fragilidade abre espaço para bancos privados disputarem parte desse mercado bilionário.

O tamanho do problema

De acordo com dados do balanço, as dívidas em recuperação judicial somam R$ 5,4 bilhões, concentradas em produtores do Centro-Oeste e do Sul. O aumento foi impulsionado por secas, enchentes no RS, custos de insumos e a queda dos preços de commodities.

Advogados regionais também têm estimulado produtores a usar a recuperação judicial como estratégia de renegociação, o que ampliou o risco moral. Além disso, apenas no primeiro trimestre, 389 produtores recorreram ao mecanismo, alta de 21,5% frente ao fim de 2024.

A herança da pandemia ainda pesa: muitos se alavancaram em crédito barato e agora enfrentam o peso da Selic a 15% ao ano, corroendo margens e dificultando a rolagem de dívidas.

Concorrência privada de olho

Para especialistas, a crise abre brecha para Itaú, Bradesco e Santander ampliarem a presença no crédito rural, com foco em clientes de menor risco e grandes produtores. Assim, essas instituições contam com maior estabilidade financeira e acesso a instrumentos modernos de captação.

Leonardo Roesler, do IBGC, avalia que a posição do BB deixou de ser intocável: “Os privados podem ocupar nichos relevantes, desde que consigam estruturar linhas competitivas e atender à complexidade do setor”.

Ainda assim, a capilaridade do BB e sua tradição tornam difícil uma substituição completa no curto prazo. Portanto, bancos privados tendem a avançar apenas em áreas específicas, com garantias sólidas e juros mais altos para compensar o risco.

O que o BB pode fazer

Para virar o jogo, o Banco do Brasil precisará ir além das renegociações de dívidas. Entre as medidas, especialistas citam ampliar o uso de seguros agrícolas, adaptar linhas de crédito ao perfil de cada cliente e investir em gestão financeira.

O uso de tecnologias como big data e inteligência artificial também é apontado como essencial para avaliar risco de forma mais precisa e monitorar a saúde financeira dos produtores.

O Plano Safra, que prevê recursos bilionários até 2026, pode aliviar a pressão, mas sua eficácia depende de rápida liberação e foco nas reais necessidades dos agricultores. Por fim, sem isso a inadimplência tende a continuar em alta.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.