
- Ambev perdeu R$ 9,3 bilhões em valor de mercado após repercussão da crise do metanol
- Consumo de álcool já vinha em queda estrutural com mudança de hábitos das novas gerações
- Analistas avaliam impacto como passageiro, mas reforçam necessidade de inovação e adaptação
A crise do metanol trouxe turbulência para a Ambev (ABEV3), que viu seu valor de mercado despencar R$ 9,3 bilhões em apenas dez dias. O movimento foi desencadeado pelas primeiras mortes confirmadas por intoxicação e pela repercussão intensa na mídia.
Embora a perda de curto prazo tenha assustado investidores, analistas afirmam que o impacto deve ser temporário. O verdadeiro desafio da companhia estaria no comportamento estrutural do consumidor, cada vez mais distante das bebidas alcoólicas tradicionais.
Mercado em alerta com volatilidade
De acordo com a Comdinheiro, a Ambev valia R$ 196,4 bilhões no último pregão antes da repercussão, em 26 de setembro. No dia 30, após a primeira morte confirmada, o valor caiu para R$ 190,5 bilhões, recuo de 3%. Dois dias depois, com a cobertura da imprensa intensificada, a queda prosseguiu, levando a empresa a R$ 188 bilhões.
No dia 3 de outubro, mesmo sem novos desdobramentos, o mercado seguiu cauteloso, reduzindo a avaliação da companhia para R$ 187,1 bilhões. A leitura dos analistas é que a pressão é mais emocional do que fundamentada nos resultados da empresa.
O gestor Everton Dias, da Legado Investimentos, avalia que a volatilidade deve se dissipar à medida que o noticiário perder força. “O mercado reage no impulso, mas tende a voltar à racionalidade quando os fundamentos se impõem”, disse.
Mudança estrutural no consumo
O episódio do metanol reforça uma tendência que já vinha sendo observada no setor: a redução gradual do consumo de bebidas alcoólicas. Entre os mais jovens, estilos de vida saudáveis, foco em esportes e hábitos diferentes vêm diminuindo a demanda.
Dias destaca que a chamada geração fitness consome menos álcool do que as anteriores, e isso tem impacto direto sobre companhias como a Ambev. Ele calcula que o efeito pode significar queda de 1% a 2% no consumo nos próximos anos.
Essa mudança é vista como um desafio estrutural, já que vai além da oscilação momentânea. A empresa precisará inovar e diversificar seu portfólio para acompanhar as transformações do mercado.
O que esperar daqui para frente
Apesar da volatilidade, analistas acreditam que a crise do metanol não altera os fundamentos da Ambev. O foco do mercado deve voltar para a eficiência operacional, os resultados trimestrais e a capacidade de adaptação da companhia.
No curto prazo, a expectativa é que a estabilização aconteça caso novos casos não surjam. A reação mais forte estaria ligada ao impacto midiático, e não a problemas internos da empresa.
Ainda assim, especialistas alertam que a gestão da Ambev precisa manter comunicação clara e transparente para preservar a confiança dos investidores e consumidores. A reputação segue sendo um ativo estratégico.