
- Itaú demite funcionários em home office sob justificativa de baixa produtividade
- Movimento levanta dúvidas sobre contradição entre lucros bilionários e cortes
- Impacto no mercado de trabalho e na imagem do banco ainda pode pesar mais que no preço da ação
O Itaú Unibanco (ITUB4) iniciou na última segunda-feira (8) uma série de demissões que miraram principalmente funcionários em regime de trabalho remoto. A justificativa oficial foi baixa produtividade, mas o movimento ocorre justamente em um momento em que o banco registra lucros bilionários, o que acendeu críticas e especulações sobre os reais motivos dos cortes.
Enquanto a instituição diz que os desligamentos foram pontuais e individuais, o Sindicato dos Bancários classificou a medida como “repudiável” e denunciou o contraste entre ganhos recordes e cortes de pessoal. Nas redes sociais, circularam relatos de que os desligamentos poderiam chegar a milhares de funcionários, embora o Itaú negue que tenha promovido demissão em massa.
Por que agora?
Uma das principais perguntas que emergem é o motivo de o banco ter esperado até agora para realizar cortes relacionados ao home office, prática consolidada desde a pandemia. O timing alimenta desconfianças: seria de fato baixa produtividade, ou ajustes estratégicos para reduzir custos em meio a um cenário macroeconômico mais desafiador?
A decisão também reacende o debate sobre como as empresas monitoram e avaliam funcionários em trabalho remoto. Se, por um lado, a autonomia cresceu, por outro a cobrança de metas e produtividade digital trouxe novas tensões. Especialistas apontam que, em muitos casos, falhas de gestão e liderança pesam mais do que a disciplina individual.
Nesse cenário, o banco se vê pressionado a justificar a medida sem passar a imagem de que está sacrificando trabalhadores enquanto ostenta resultados robustos.
Impacto sobre trabalhadores e mercado de trabalho
Para os demitidos, a decisão amplia o drama de buscar recolocação em um mercado já saturado. Segundo dados recentes do IBGE, a taxa de desemprego permanece acima de 7%, o que significa que novas demissões em empresas de grande porte elevam a competição por vagas qualificadas.
Além disso, os cortes em uma instituição do porte do Itaú podem gerar efeito psicológico no mercado, reforçando a percepção de que mesmo empresas sólidas não hesitam em desligar profissionais em períodos de lucros. Esse contraste amplia a sensação de insegurança no setor financeiro e no mercado de tecnologia, onde o home office ainda é predominante.
O sindicato aponta que, em vez de investir em melhores condições de trabalho, o banco optou por reduzir custos via cortes, repassando os riscos da digitalização para os empregados.
Como o mercado financeiro enxerga o movimento
Do ponto de vista da Bolsa, a notícia ainda não se mostrou capaz de derrubar as ações do Itaú de forma significativa. Analistas explicam que investidores tendem a enxergar cortes de pessoal como estratégia de eficiência operacional, o que pode até sustentar margens no curto prazo.
Porém, se o episódio alimentar ruídos de imagem e novos embates sindicais, há risco de aumento de passivos trabalhistas e pressões sobre a reputação da companhia. Em última instância, o mercado pode começar a questionar se os ganhos de curto prazo compensam os riscos de longo prazo.
No pregão de ontem, ITUB4 teve variação modesta, mas investidores seguem atentos a novas sinalizações do banco e à repercussão social e política do caso.