Baixa produtividade?

Crise no home office? Cortes no Itaú (ITUB4) expõem dilema da gestão em tempos de lucros bilionários

Banco demite funcionários por baixa produtividade, mas decisão levanta dúvidas sobre os motivos e gera debate sobre impactos nos empregos e no mercado.

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ItaúpadraoGDI2024
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  • Itaú demite funcionários em home office sob justificativa de baixa produtividade
  • Movimento levanta dúvidas sobre contradição entre lucros bilionários e cortes
  • Impacto no mercado de trabalho e na imagem do banco ainda pode pesar mais que no preço da ação

O Itaú Unibanco (ITUB4) iniciou na última segunda-feira (8) uma série de demissões que miraram principalmente funcionários em regime de trabalho remoto. A justificativa oficial foi baixa produtividade, mas o movimento ocorre justamente em um momento em que o banco registra lucros bilionários, o que acendeu críticas e especulações sobre os reais motivos dos cortes.

Enquanto a instituição diz que os desligamentos foram pontuais e individuais, o Sindicato dos Bancários classificou a medida como “repudiável” e denunciou o contraste entre ganhos recordes e cortes de pessoal. Nas redes sociais, circularam relatos de que os desligamentos poderiam chegar a milhares de funcionários, embora o Itaú negue que tenha promovido demissão em massa.

Por que agora?

Uma das principais perguntas que emergem é o motivo de o banco ter esperado até agora para realizar cortes relacionados ao home office, prática consolidada desde a pandemia. O timing alimenta desconfianças: seria de fato baixa produtividade, ou ajustes estratégicos para reduzir custos em meio a um cenário macroeconômico mais desafiador?

A decisão também reacende o debate sobre como as empresas monitoram e avaliam funcionários em trabalho remoto. Se, por um lado, a autonomia cresceu, por outro a cobrança de metas e produtividade digital trouxe novas tensões. Especialistas apontam que, em muitos casos, falhas de gestão e liderança pesam mais do que a disciplina individual.

Nesse cenário, o banco se vê pressionado a justificar a medida sem passar a imagem de que está sacrificando trabalhadores enquanto ostenta resultados robustos.

Impacto sobre trabalhadores e mercado de trabalho

Para os demitidos, a decisão amplia o drama de buscar recolocação em um mercado já saturado. Segundo dados recentes do IBGE, a taxa de desemprego permanece acima de 7%, o que significa que novas demissões em empresas de grande porte elevam a competição por vagas qualificadas.

Além disso, os cortes em uma instituição do porte do Itaú podem gerar efeito psicológico no mercado, reforçando a percepção de que mesmo empresas sólidas não hesitam em desligar profissionais em períodos de lucros. Esse contraste amplia a sensação de insegurança no setor financeiro e no mercado de tecnologia, onde o home office ainda é predominante.

O sindicato aponta que, em vez de investir em melhores condições de trabalho, o banco optou por reduzir custos via cortes, repassando os riscos da digitalização para os empregados.

Como o mercado financeiro enxerga o movimento

Do ponto de vista da Bolsa, a notícia ainda não se mostrou capaz de derrubar as ações do Itaú de forma significativa. Analistas explicam que investidores tendem a enxergar cortes de pessoal como estratégia de eficiência operacional, o que pode até sustentar margens no curto prazo.

Porém, se o episódio alimentar ruídos de imagem e novos embates sindicais, há risco de aumento de passivos trabalhistas e pressões sobre a reputação da companhia. Em última instância, o mercado pode começar a questionar se os ganhos de curto prazo compensam os riscos de longo prazo.

No pregão de ontem, ITUB4 teve variação modesta, mas investidores seguem atentos a novas sinalizações do banco e à repercussão social e política do caso.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.