
A sequência de quatro pregões negativos no preço do minério de ferro derrubou nesta quarta-feira (28) as ações das maiores empresas de mineração e siderurgia do Brasil. Por volta das 11:55, a CSN (CSNA3) liderava as perdas, com queda de mais de 5,22% (a R$ 8,54), enquanto Usiminas (USIM5) e Vale (VALE3) também registravam perdas relevantes, 4,49% (a R$ 5,32) e 0,48% (a R$ 53,58), respectivamente.
Mas, mais do que uma simples correção de mercado, o movimento acende um alerta mais amplo: o de que o setor pode estar entrando em um novo ciclo estrutural de desaceleração, alimentado por fatores geopolíticos e uma mudança na dinâmica da indústria global de aço.
O minério de ferro atingiu nesta manhã o menor patamar em cinco anos, com a tonelada negociada a US$ 97,14 na Bolsa de Dalian, na China.
Além do impacto do preço da commodity, investidores digerem a decisão do governo brasileiro de renovar as tarifas de 25% sobre produtos siderúrgicos importados, com cotas rígidas para laminados e galvanizados.
A medida visa proteger a indústria nacional, mas também reforça o diagnóstico de um ambiente competitivo deteriorado globalmente.
China freia produção e o impacto é global
Segundo dados da S&P Global Commodity Insights, a produção chinesa de aço bruto deve cair para 968 milhões de toneladas em 2025 — uma retração de quase 4% em relação ao ano anterior.
As siderúrgicas do país, que respondem por mais da metade da demanda global de minério, estão cortando produção frente a estoques elevados e demanda interna fraca, mesmo após pacotes de estímulo do governo.
Em maio, a produção diária das principais siderúrgicas chinesas recuou 0,3% frente ao mês anterior, reforçando a tendência de desaquecimento da indústria.
Para analistas, trata-se de um reflexo da falta de tração da economia local, do encolhimento do setor imobiliário e das restrições ambientais impostas à indústria pesada.
Guerra comercial dos EUA agrava cenário do minério de ferro
Em paralelo, as tensões comerciais entre Estados Unidos e China — agora reacendidas sob a retórica protecionista do presidente Donald Trump — adicionam incerteza.
A imposição de novas tarifas norte-americanas a produtos chineses amplia os custos das exportações e reduz a atratividade de investir em infraestrutura e manufatura pesada nos países emergentes.
Esse ambiente desfavorável reforça o que analistas chamam de “desglobalização seletiva”: um movimento de concentração industrial em centros estratégicos e perda de dinamismo em setores que, como o de mineração e aço, dependem de grandes volumes e margens apertadas.