As ações da CVC (CVCB3) amargaram a maior queda do Ibovespa nesta quinta-feira (25), em um dia marcado pela forte aversão ao risco no mercado brasileiro. Por volta das 15h20 (horário de Brasília), os papéis da empresa recuavam 10,04%, sendo negociados a R$ 2,42, enquanto o principal índice da bolsa operava em baixa.
A desvalorização ocorre em um cenário de forte alta do dólar à vista (USDBRL), que atingiu R$ 6,00 pela primeira vez na história. Além disso, a curva de juros futuros (DIs) sofreu forte pressão, com os vencimentos avançando mais de 30 pontos-base em relação ao ajuste anterior. Os vértices mais longos já precificam taxas superiores a 14%, reforçando expectativas de juros altos por um período prolongado.
Impactos no setor de turismo
Com o dólar em alta e juros elevados, o consumo de bens e serviços relacionados ao turismo, como pacotes de viagens e hospedagens, enfrenta forte retração. Segundo analistas, o aumento do custo do crédito e a desvalorização cambial impactam diretamente a demanda por viagens internacionais.
“Um dólar acima de R$ 6 inviabiliza muitos planejamentos de viagens ao exterior. Além disso, o custo elevado de financiamento e a perda de poder aquisitivo das famílias são fatores decisivos para a queda na procura por serviços turísticos”,
disse Marcelo Nunes, economista do setor ao portal Money Times.
Apesar da proximidade da Black Friday, tradicional período de promoções, a CVC, uma das maiores operadoras de turismo do país, sofre com a redução do consumo em um ambiente de incertezas econômicas.
Cenário econômico: dólar, juros e pacote fiscal
A valorização recorde do dólar frente ao real ocorre em meio à repercussão do pacote fiscal anunciado pelo governo federal. Entre as medidas, está a isenção do Imposto de Renda para salários de até R$ 5 mil mensais, uma das promessas de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, detalhou na quarta-feira (24) cortes de R$ 71,9 bilhões nos próximos dois anos — sendo R$ 30,6 bilhões em 2025 e R$ 41,3 bilhões em 2026 — para compensar o impacto fiscal da medida. No entanto, o mercado considera insuficiente a elevação da taxação para salários acima de R$ 50 mil, proposta para neutralizar o impacto das mudanças no IR.
A percepção de fragilidade no ajuste fiscal aumentou a cautela entre investidores, pressionando o câmbio e a curva de juros. “Os agentes econômicos enxergam que o pacote não é suficiente para garantir o equilíbrio das contas públicas. Isso leva à deterioração dos ativos domésticos, como ações e títulos, e aumenta o prêmio de risco do país”, afirma Paula Costa, analista de mercado financeiro.
Impactos históricos e projeções futuras
O dólar em alta e a pressão na curva de juros resultam em impactos significativos para a economia doméstica. Segundo o Banco Central, para cada 1% de alta nos juros, o consumo das famílias pode recuar até 0,3% no curto prazo. No setor de turismo, o impacto é ainda mais severo, dado o peso do câmbio nas operações.
Nos últimos 12 meses, as ações da CVC acumulam queda de 67,2%, refletindo desafios estruturais e conjunturais. A empresa ainda enfrenta dificuldades relacionadas à recuperação pós-pandemia e à competição no mercado digital.
Para o economista-chefe do BTG Pactual, André Carvalho, o cenário segue desafiador.
“A CVC depende de uma estabilização econômica e de um dólar em patamares mais baixos para retomar crescimento. Com juros acima de 14% precificados nos contratos longos, é improvável uma recuperação sólida no curto prazo”
avalia Carvalho.
O Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, também foi impactado pela instabilidade econômica. Além da CVC, setores sensíveis ao consumo interno, como varejo e construção, registraram quedas expressivas.