Injeção de capital

Da euforia ao freio: o movimento dentro da Raízen (RAIZ4) que ninguém esperava

Ação encosta em R$ 1, usina histórica é paralisada e a gestão corre por capital e desinvestimentos para aliviar a dívida.

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  • A Raízen paralisou a Santa Elisa, viu o papel encostar em R$ 1 e iniciou conversas por capital para enfrentar dívida e queima de caixa.
  • A companhia acelera desinvestimentos e avalia um sócio estratégico para reforçar liquidez e reduzir alavancagem.
  • O ambiente externo piorou com tarifas e juros altos, mas a solução do balanço pode destravar valor e recuperar geração de caixa.

No coração canavieiro do país, a Raízen (RAIZ4) paralisou a usina Santa Elisa, em Sertãozinho, e virou a rotina da cidade. A decisão abalou empregos e comércio, porque a planta sustentou a economia local por quase 90 anos.

Logo depois, o mercado reagiu. As ações tocaram R$ 1,02 na mínima, enquanto a empresa admitiu conversas para uma injeção de capital. A dívida líquida subiu para cerca de R$ 49 bilhões e a queima de caixa no trimestre chegou a R$ 7 bilhões.

Do IPO recorde ao choque de realidade

Em 2021, a companhia abriu capital com o maior IPO da América Latina e prometeu acelerar biocombustíveis e açúcar. O plano ganhou velocidade, portanto novos projetos receberam recursos.

Com a virada do ciclo, os juros escalaram para o maior nível em quase duas décadas e as margens ficaram mais apertadas. Assim, a despesa financeira cresceu e a alavancagem incomodou.

Em julho, a parada da Santa Elisa acendeu o alerta. Trabalhadores relataram surpresa e tristeza, porque esperavam a continuidade da operação. A confiança do investidor cedeu e o papel acumulou queda próxima de 70% em 12 meses.

A conta que apertou

A compra da Biosev, fechada em 2021, trouxe ativos que exigem modernização e, portanto, consomem caixa. O retorno demorou mais que o previsto.

Além disso, o custo de capital disparou e corroeu o resultado. Mesmo com ganhos operacionais, a despesa financeira pesou mais.

Diante disso, a gestão deslocou o foco para liquidez, alongamento de prazos e preservação de caixa. O recado aos credores foi direto e a prioridade passou a ser desalavancar.

Plano de emergência: vender, cortar, trazer sócio

A Raízen acelerou desinvestimentos. Vendeu a usina Leme, em Piracicaba, e 55 unidades de geração distribuída. Negocia usinas no Mato Grosso do Sul e ativos na Argentina.

Paralelamente, a controladora Cosan abriu a porta para um investidor estratégico. A ideia é buscar um sócio alinhado a Shell e governança, ainda que com possível diluição.

Bancos e assessores atuam no desenho das alternativas. A meta combina reforço imediato de caixa, cronograma claro de redução de dívida e previsibilidade de operação.

Choque externo e execução

O tarifaço de 50% nos EUA atingiu o plano de exportar etanol para aviação e reduziu previsibilidade de receitas. Assim, projetos de longo prazo, como SAF e 2G, perderam tração no curto prazo.

Ao mesmo tempo, o ciclo de açúcar e etanol oscilou e pressionou margens. Pares mais leves em capex navegaram melhor, o que ampliou a diferença de desempenho.

Mesmo assim, a empresa guarda ativos industriais relevantes e uma rede logística difícil de replicar. Se reduzir o custo financeiro e retomar acesso a capital, o negócio volta a gerar caixa com alavancas conhecidas.

Impacto humano e próximos passos

Em Sertãozinho, cerca de 1.200 pessoas podem perder o emprego com a parada da Santa Elisa. A cidade não esperava esse desfecho, e relatos locais expõem frustração e incerteza.

Ainda que dolorosa, a mudança busca ganhar tempo, estabilizar o balanço e proteger a operação central. A empresa mantém contratos e rotinas essenciais.

Agora, a direção tenta reconstruir confiança. Com liquidez reforçada, governança estável e um cronograma de desap alavancagem, a Raízen mira uma volta gradual ao jogo.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.