
- ETFs superaram fundos tradicionais no Brasil em captação em 2025
- A indústria global soma US$ 15 trilhões e cresce 10% ao ano
- O avanço no Brasil depende de educação financeira e liquidez
Os Exchange Traded Funds (ETFs), fundos que replicam índices de mercado, deixaram de ser coadjuvantes no Brasil e agora despontam como protagonistas. Após duas décadas de lenta evolução, o produto finalmente ganhou força e já atrai bilhões em captação, com foco crescente entre os clientes de alta renda.
Criados nos anos 80 no exterior e introduzidos no Brasil apenas em 2004, os ETFs passaram anos sem grande adesão. Mas em 2025, o movimento mudou de patamar: os fundos de índice superaram até mesmo categorias tradicionais como ações e multimercados, e hoje disputam espaço como alternativa de diversificação mais simples e barata.
A guinada dos ETFs no Brasil
Até meados de 2018, os ETFs tinham pouca relevância no mercado brasileiro, com menos de 60 mil investidores e captação anual modesta, de cerca de R$ 260 milhões. O cenário começou a mudar com a entrada de novos produtos e maior interesse de gestoras.
De acordo com a Anbima, entre janeiro e agosto de 2025 os ETFs captaram R$ 5 bilhões, superando fundos de ações, multimercados, cambiais e de previdência. Hoje são 132 produtos listados e 1 milhão de investidores, com pelo menos 23 novos fundos lançados desde o ano passado.
Apesar do avanço, o volume ainda fica distante da renda fixa, que captou R$ 92,6 bilhões no mesmo período. Mas a crise nos fundos tradicionais e o apetite da alta renda explicam o crescimento dos ETFs.
A força global do modelo
No mundo, os ETFs já são gigantes: segundo a Bloomberg Intelligence, a indústria soma US$ 15 trilhões em ativos e cresce 10% ao ano. Só nos EUA, existem 1,9 mil fundos listados, com movimentação diária de quase US$ 200 bilhões.
Sendo assim, o Brasil começa a seguir o mesmo caminho, ainda em escala menor. O patrimônio líquido local dos ETFs subiu 31% em 12 meses e já chega a R$ 60 bilhões. Para especialistas, esse é apenas o início de um movimento estrutural.
Felipe Amoedo, da HMC Capital, lembra que “o Brasil passa agora pelo mesmo processo visto nos EUA e Europa”. Desse modo, a lógica é simples: diversificação ampla, custos baixos e liquidez alta.
Por que a alta renda adotou
ETFs não possuem come-cotas nem taxas de performance, apenas a variação passiva dos índices. Isso reduz custos e amplia ganhos, tornando o produto atrativo para alocadores sofisticados.
Além disso, outro ponto decisivo é que, diferentemente dos fundos comuns, os ETFs não geram comissão para assessores. Isso, que antes travava seu crescimento, agora ganha impulso com a ascensão das assessorias fee-based.
Portanto, segundo Alexandre Brito, da Finacap, “sem o incentivo das comissões, a indústria de ETFs ganha espaço natural”. Ele destaca que 56% da captação de ETFs até julho veio da alta renda, especialmente em estratégias globais.
O próximo desafio
Apesar do crescimento, há obstáculos. Especialistas alertam que nem todos os ETFs têm liquidez adequada ou patrimônio relevante, o que pode frustrar investidores menos informados.
Ademais, Renato Eid, do Itaú Asset, lembra que “o maior risco ao investir em ETF é não entender o índice que está por trás”. Segundo ele, educação financeira será chave para sustentar a expansão.
Por fim, a aposta é que, com maior familiaridade do investidor brasileiro, os ETFs possam se tornar protagonistas da indústria, mas sem substituir por completo os fundos tradicionais.