
A dívida bruta do Brasil (DBGG) deverá ultrapassar a marca simbólica dos 100% do Produto Interno Bruto (PIB) já em 2030, segundo projeções da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado Federal. Em um cenário ainda mais pessimista, o patamar seria atingido um ano antes, com a dívida chegando a 170,3% do PIB em 2035.
O alerta surge no primeiro relatório da IFI após o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciar um congelamento de R$ 31 bilhões em despesas discricionárias e novas medidas para aumentar a arrecadação, como o aumento do IOF e a tributação de investimentos antes isentos, como JCP e títulos de renda fixa.
O pacote visa equilibrar as contas públicas e sustentar a meta de déficit primário zero em 2025 — mas, para a IFI, isso não será suficiente.
Trajetória ascendente da dívida no Brasil
De acordo com o relatório, a dívida bruta era de 76,2% do PIB em abril de 2025, já com uma alta de 4,5 pontos percentuais desde o início do governo Lula.
A projeção da IFI aponta que esse número subirá para 77,6% ao fim de 2025 e chegará a 82,4% em 2026, último ano do atual mandato. A tendência de alta se manteria pelos próximos dez anos, atingindo 124,9% do PIB em 2035.
Mesmo no cenário otimista traçado pelo órgão, o endividamento brasileiro seguirá escalando: de 76,4% do PIB em 2025 para 90,1% em 2035.
Receita sob pressão, gastos subestimados
Além de questionar a sustentabilidade do ajuste fiscal, a IFI também discorda das projeções oficiais do governo em relação a diversos gastos. Por exemplo:
- BPC (Benefício de Prestação Continuada): governo projeta R$ 126 bilhões; IFI estima R$ 130,2 bilhões.
- Bolsa Família: governo espera gasto de R$ 158,6 bilhões; IFI prevê R$ 164 bilhões.
- Despesas discricionárias: governo projeta R$ 101,5 bilhões; IFI vê R$ 107,6 bilhões.
A diferença total em despesas sujeitas à programação financeira chega a R$ 12,2 bilhões entre as estimativas da equipe econômica e da IFI, que entram na análise sobre a dívida bruta do Brasil.
Esgotamento da arrecadação como solução
A IFI também chama atenção para um “esgotamento paulatino” do crescimento da arrecadação como ferramenta de ajuste fiscal.
A carga tributária brasileira já está em 34,24% do PIB, um dos maiores índices da América Latina. Ou seja, há pouco espaço para novos aumentos de impostos sem afetar a atividade econômica.
Apesar do esforço do governo para arrecadar R$ 31,4 bilhões com novas medidas, o impacto líquido pode ser menor do que o necessário para garantir a convergência da dívida do Brasil.
Meta fiscal sob pressão
O governo Lula trabalha com uma meta de déficit primário zero em 2025, com margem de tolerância de até R$ 30,9 bilhões.
Contudo, a própria equipe econômica reconheceu que, sem cortes, o déficit chegaria a R$ 51,7 bilhões, o que levou ao congelamento de R$ 31 bilhões em despesas discricionárias.
A IFI, porém, indica que o déficit pode ser ainda maior, considerando as subestimações nos gastos com programas sociais e as incertezas no comportamento das receitas.