
- Dólar sobe para R$ 5,57 após Lula ameaçar iniciar guerra tarifária com os Estados Unidos se Trump não recuar.
- Negociações seguem travadas, e governo avalia ações emergenciais para compensar perdas em setores exportadores.
- Críticas de Trump ao Fed agravam instabilidade, e ex-presidentes da instituição saem em defesa da autonomia monetária.
O dólar iniciou esta terça-feira (22) com alta de 0,21%, cotado a R$ 5,5718. A valorização da moeda americana acompanha o clima de tensão entre Brasil e Estados Unidos, agravado pelas declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante visita ao Chile.
Em entrevista a jornalistas, Lula afirmou que o país ainda não está em uma guerra tarifária com os norte-americanos. No entanto, ele deixou claro que a situação pode mudar se Donald Trump — que anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros — não recuar. “A guerra vai começar quando eu der uma resposta ao Trump”, declarou.
Governo tenta negociar, mas fala de Lula aumenta risco
Desde o anúncio das tarifas, em 9 de julho, o governo brasileiro tenta negociar uma solução diplomática antes do prazo final, marcado para 1º de agosto. No entanto, até agora, não houve avanço significativo. As tratativas seguem estagnadas, e a declaração de Lula aumenta a percepção de conflito comercial iminente.
Internamente, a equipe econômica busca alternativas para mitigar o impacto nos setores mais atingidos. Medidas de compensação e crédito emergencial estão em análise, mas ainda não há definição. Enquanto isso, setores como agropecuária, siderurgia e têxteis enfrentam incerteza sobre contratos e exportações.
As falas de Lula também geraram repercussão no Congresso. Parte da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) cobrou uma resposta mais técnica e menos política por parte do Executivo. Há temor de que um embate direto com os EUA possa agravar ainda mais o cenário macroeconômico e frear o crescimento em 2025.
Crise americana se soma à instabilidade brasileira
No exterior, investidores monitoram outro foco de instabilidade: o embate entre Donald Trump e o Federal Reserve. Dois ex-presidentes do banco central americano, Ben Bernanke e Janet Yellen, publicaram um artigo no The New York Times defendendo a independência da instituição, após críticas públicas do atual presidente dos EUA.
Segundo eles, os ataques de Trump ao presidente do Fed, Jerome Powell, comprometem a credibilidade da autoridade monetária. “Essas ameaças afetam não apenas Powell, mas todos os futuros presidentes e a reputação do próprio Fed”, escreveram.
Apesar do cenário turbulento, o dólar tem mostrado tendência de queda em várias economias. Levantamento da Elos Ayta Consultoria revela que a moeda americana recuou frente a 24 das 27 principais moedas desde 20 de janeiro. O maior tombo foi diante do rublo russo, com baixa de 23,4%. Em seguida, aparecem coroa sueca (-13,66%) e franco suíço (-13,04%).
No Brasil, no entanto, a crise política e fiscal ofusca esse movimento. Ontem (21), o dólar fechou em queda de 0,40%, cotado a R$ 5,5650, mas analistas alertam que a tendência pode se inverter rapidamente, especialmente se o impasse com os EUA escalar para medidas de retaliação mútua.