
- Dólar sobe para R$ 5,70 após investidores reagirem mal ao aumento do IOF e às incertezas fiscais do governo brasileiro
- Governo recua parcialmente e suspende IOF sobre fundos no exterior, mas mercado continua desconfiado
- Trump ameaça tarifa de 50% à União Europeia, reacendendo temores de guerra comercial e pressionando moedas emergentes
O dólar à vista iniciou esta sexta-feira (23) em forte alta frente ao real, ampliando os ganhos da véspera e refletindo o clima de tensão nos mercados.
A combinação do anúncio de um aumento abrupto do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) no Brasil e as novas ameaças tarifárias de Donald Trump contra a União Europeia geraram insegurança nos investidores e pressionaram a moeda americana para cima.
Às 9h20, o dólar operava em alta de 0,75%, sendo vendido a R$ 5,705. Já o dólar futuro para junho, negociado na B3, cedia 1,06%, sendo cotado a 5.702 pontos. A disparidade entre os mercados mostra a volatilidade no cenário atual. Além da incerteza sobre os próximos passos da política econômica brasileira e do comércio global.
Operações
Na quinta-feira (22), o dólar já havia encerrado em alta de 0,35%, a R$ 5,6611, após o governo federal anunciar uma elevação do IOF para 3,5% sobre operações internacionais. Contudo, incluindo remessas para o exterior e investimentos em fundos estrangeiros.
A medida surpreendeu o mercado e foi interpretada como mais uma tentativa do governo de reforçar a arrecadação em meio à pressão para atingir a meta de déficit fiscal zero em 2025.
O impacto foi imediato. Investidores enxergaram a elevação como uma sinalização preocupante sobre a fragilidade das contas públicas. Além da falta de medidas estruturais para reequilibrar o orçamento. Corretoras e plataformas interromperam ou alertaram seus clientes com urgência sobre o fim do IOF antigo, provocando uma corrida de última hora por operações de câmbio antes da virada de alíquota.
Reação negativa
A reação negativa foi tão forte que, poucas horas depois, o governo recuou parcialmente. Em edição extra do Diário Oficial da União publicada nesta sexta, o Planalto suspendeu o aumento do IOF especificamente sobre as transferências para aplicações em fundos de investimento no exterior.
A tentativa de amenizar o impacto, portanto, não foi suficiente para acalmar o mercado. Que já havia precificado o movimento como mais uma intervenção errática da política econômica.
No cenário internacional, o clima também se deteriorou. Donald Trump, favorito entre os republicanos nas eleições presidenciais dos EUA, voltou, contudo, a ameaçar a estabilidade do comércio global.
Em publicação na rede Truth Social, ele disse que está “recomendando uma tarifa fixa de 50% para a União Europeia”. Ainda, alegando frustração com o que chamou de “impasse nas negociações comerciais”. A medida, segundo ele, entrará em vigor em 1º de junho, caso não haja progresso.
A retórica protecionista reacendeu os temores de uma guerra comercial, especialmente entre grandes economias. A tensão, portanto, afeta diretamente empresas exportadoras e aumenta a busca dos investidores por ativos considerados mais seguros, como o dólar. Dessa forma, pressionando ainda mais sua cotação no mercado global.
Com a instabilidade local provocada pelo IOF e a tensão externa renovada por Trump, o real se enfraquece diante de um cenário de aversão ao risco. Especialistas, no entanto, avaliam que o comportamento errático da política fiscal no Brasil, somado à imprevisibilidade no comércio internacional, poderá manter o dólar em níveis elevados nas próximas semanas.