Câmbio e política

Dólar pode disparar com tarifaço de Trump e crise política no Brasil

Incerteza eleitoral, tensão com o STF e risco de retaliação elevam alerta sobre a cotação em 1º de agosto.

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Dólar pode disparar com tarifaço de Trump e crise política no Brasil
  • Com o tarifaço de Trump previsto para 1º de agosto e a crise política interna, o mercado teme disparada do câmbio no curto prazo.
  • Técnicos do governo projetam impacto temporário, mas suficiente para abalar o real e pressionar juros e inflação.
  • Embora o efeito prático seja pequeno no PIB, o desgaste político pode influenciar a eleição de 2026 e, por tabela, o câmbio.

A aproximação do “dia D” do tarifaço de 50% prometido por Donald Trump contra produtos brasileiros acendeu um novo sinal de alerta no mercado de câmbio. A crise política interna, agravada por decisões judiciais contra Jair Bolsonaro, tornou o cenário ainda mais incerto às vésperas de 1º de agosto.

A cotação do dólar, que oscilava abaixo de R$ 5,50 antes da escalada da tensão, já voltou a se aproximar dos R$ 5,60 com o agravamento da crise. A possibilidade de não haver acordo com os Estados Unidos até o prazo final aumenta o risco de uma disparada da moeda americana nos próximos dias.

Crise política agrava o câmbio

Na última semana, a decisão do ministro Alexandre de Moraes que impôs tornozeleira eletrônica a Bolsonaro provocou uma nova onda de tensão política. A medida elevou o dólar a R$ 5,58, com alta de 0,75% no dia, interrompendo um breve alívio que vinha sendo observado no câmbio.

O governo Lula, ciente da pressão cambial, formou um comitê liderado por Geraldo Alckmin para tentar conter danos junto ao empresariado. No entanto, não há diálogo aberto com os EUA, o que torna a chance de barrar o tarifaço cada vez menor.

Fontes da equipe econômica admitem que o dólar pode subir ainda mais. Um avanço de apenas R$ 0,20 já seria suficiente para apagar meses de valorização do real obtidos via operações de carry trade, nas quais investidores ganham com a diferença de juros entre países.

Efeitos no curto prazo: alta e volatilidade

O temor no governo é que, caso o tarifaço se confirme, a reação do dólar ocorra de forma abrupta. Um dos técnicos afirmou, sob anonimato, que o impacto deve ser forte, mas passageiro, já que os fundamentos cambiais permanecem favoráveis ao Brasil.

A análise parte do diferencial de juros, com a Selic em 15%, atraindo capital estrangeiro. Além disso, o real havia se apreciado no segundo trimestre e, mesmo com ruídos, o Brasil continua barato para investidores. Ainda assim, a instabilidade pode abrir espaço para especulações e arbitragem nos dias anteriores a 1º de agosto.

A expectativa do mercado é que o movimento seja limitado ao curto prazo, com retorno à estabilidade em seguida. Porém, isso depende diretamente da postura do governo brasileiro e da evolução da retórica de Trump nos dias seguintes ao anúncio oficial.

Tarifa x economia: impacto mais político que real

Apesar do barulho, analistas afirmam que o impacto econômico direto é limitado. Fabio Kanczuk, ex-diretor do Banco Central, lembra que as exportações para os EUA representam menos de 2% do PIB brasileiro. Mesmo com a tarifa de 50%, o efeito sobre a atividade e a inflação seria “pequeno”.

No entanto, o componente político é mais sensível. Kanczuk avalia que a tensão internacional pode impulsionar a popularidade de Lula e elevar a percepção de risco político entre investidores. Essa percepção, por sua vez, se traduz em câmbio e juros mais voláteis.

Já o economista Nilson Teixeira alerta para outro efeito: o possível desgaste do dólar como reserva de valor, em meio a tarifas protecionistas. Ele considera que, no curtíssimo prazo, o real tende a se desvalorizar, mas pode se recuperar depois, caso o cenário global favoreça.

Expectativa de recuo de Trump divide opiniões

No mercado, há quem aposte que Trump voltará atrás na medida, como já fez com outros países. Esse fenômeno foi apelidado de “Taco Trade”, sigla para “Trump always chickens out”.

Segundo Dalton Gardiman, da Ágora Investimentos, essa crença segurou uma disparada maior do dólar nos últimos dias.

Ainda assim, existe o temor de que o Brasil seja o “exemplo da vez” para o republicano endurecer sua imagem perante o eleitorado.

Caso isso ocorra, o impacto poderá ser mais profundo, especialmente se combinado com ruídos internos, como a falta de uma política fiscal clara ou o aumento de tensões com o Judiciário.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.