
- Dólar sobe para R$ 5,53 após início negativo, com investidores atentos a tarifa dos EUA
- Negociação entre Brasil e governo Trump continua travada a poucos dias do prazo final
- Visita de Trump ao Fed aumenta tensão sobre autonomia do banco central americano
Após abrir a quinta-feira (24) com leve queda, o dólar inverteu a direção e voltou a subir, refletindo o aumento da cautela no mercado com a proximidade do prazo para a imposição de tarifas de 50% dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Sendo assim, às 10h40, a moeda americana avançava 0,18%, cotada a R$ 5,532, mesmo em um dia de relativa estabilidade no exterior.
Desse modo, a virada ocorre em meio ao impasse diplomático entre Brasil e EUA. A ausência de progresso nas negociações eleva o risco de retaliação comercial a partir de 1º de agosto e pressiona o câmbio doméstico.
Impasse entre Brasil e EUA mantém mercado em alerta
O presidente americano Donald Trump voltou a afirmar que “alguns países com quem não estamos nos dando bem pagarão tarifas de 50%”, sem citar diretamente o Brasil. A declaração, no entanto, foi interpretada como um novo sinal de que o governo brasileiro continua na mira das sanções comerciais impostas pelo republicano.
Além disso, nos bastidores, fontes do mercado apontam que não há um canal ativo de diálogo entre Brasília e Washington. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentou minimizar o cenário e afirmou na quarta-feira que ainda é possível um acordo até o prazo final, no dia 1º de agosto. Porém, não apresentou detalhes sobre eventuais avanços.
Enquanto isso, o Japão, que estava na lista inicial de países sujeitos às tarifas, conseguiu fechar um acordo com os EUA. Portanto, o pacto reduziu as tarifas de 25% para 15% e envolveu ainda um pacote de investimentos de US$ 550 bilhões, fortalecendo a relação bilateral e excluindo o país asiático das medidas mais duras.
Cautela pressiona dólar e trava apetite por risco
A indefinição nas negociações entre Brasil e EUA torna o mercado local mais volátil. O real, por ser uma moeda de país exportador de commodities, sofre duplamente com a combinação de riscos comerciais e cenário fiscal frágil. Por isso, mesmo com o dólar apresentando leve estabilidade frente a pares globais, a divisa americana se fortalece no Brasil.
Ademais, segundo Diego Costa, head de câmbio da B&T XP para o Norte e Nordeste, a estagnação das conversas amplia a incerteza. “O mercado começa a precificar que o Brasil, ao contrário do Japão, não será poupado”, afirma. Para ele, a alta do dólar não é apenas reflexo da tensão externa, mas também da falta de ação concreta do governo brasileiro.
Além do câmbio, os juros futuros também sentem os efeitos. Desse modo, o cenário externo desfavorável e o risco de medidas fiscais adicionais no Brasil limitam qualquer aposta em cortes adicionais da Selic.
Trump pressiona o Fed e investidor teme nova instabilidade
Outro ponto que chamou atenção nesta quinta-feira foi a visita do presidente Trump à sede do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA. O gesto, incomum e simbólico, ocorreu após críticas públicas de Trump ao presidente do Fed, Jerome Powell, sobre a manutenção dos juros em patamares elevados.
Além disso, a visita ocorre em meio a uma postura ainda cautelosa do Fed quanto a eventuais cortes de juros. Trump, que busca reeleição, vem defendendo medidas mais agressivas de afrouxamento monetário, enquanto Powell tem resistido, afirmando que a inflação ainda não está sob controle.
Por fim, o encontro, mesmo sem caráter formal, levanta dúvidas sobre a autonomia do Fed e reforça a volatilidade nos mercados. Investidores agora acompanham os próximos pronunciamentos de Powell para identificar possíveis mudanças na condução da política monetária.