
- Wise abandona a Bolsa de Londres e migrará sua listagem principal para os EUA até meados de 2026.
- CEO manterá controle de votos mesmo com baixa participação econômica, gerando críticas internas.
- Mercado vê movimento como parte de uma onda de empresas que buscam valorização em Wall Street.
A fintech britânica Wise acaba de receber o aval dos acionistas para uma mudança radical: sair da Bolsa de Londres e migrar sua listagem principal para os Estados Unidos. A decisão foi aprovada em assembleia extraordinária e marca uma virada histórica no setor financeiro global. A expectativa é que a nova fase da companhia abra caminho para mais liquidez, maior valorização de mercado e acesso ampliado ao capital norte-americano.
Wise abandona Londres: votação amplia poder do CEO
A proposta contou com o apoio expressivo dos investidores. Mais de 90% dos acionistas da classe A e cerca de 85% da classe B votaram a favor da mudança. Quando ponderados por valor das ações, os números chegam a 77% e 81%, respectivamente.
Além disso, a assembleia aprovou a extensão da estrutura de ações com voto diferenciado, garantindo ao CEO e cofundador Kristo Käärmann controle de mais de 55% dos votos, mesmo com apenas 18% da participação econômica. Esse modelo, conhecido como dual-class, é comum em empresas de tecnologia nos EUA, mas vem sendo questionado quanto à governança.
Segundo a empresa, a listagem nos Estados Unidos será concluída até o segundo trimestre de 2026. Enquanto isso, as ações continuarão negociadas em Londres de forma secundária.
Críticas internas expõem tensão entre fundadores
Apesar da aprovação ampla, a decisão gerou críticas internas. O cofundador Taavet Hinrikus, que ainda possui cerca de 5% da empresa, votou contra a mudança. Ele argumenta que a proposta compromete os princípios de transparência e que a votação conjunta da migração com a manutenção da estrutura de poder desequilibra a governança da companhia.
Consultorias de voto, como ISS e Glass Lewis, também recomendaram cautela. Embora tenham apoiado a mudança para Nova York, alertaram que a extensão da estrutura de voto concentrado deveria ser deliberada separadamente.
Wall Street vira destino natural para fintechs
O movimento da Wise se soma a uma onda crescente de empresas europeias que optam pelas bolsas americanas para ampliar valor e atratividade. Nomes como CRH, Flutter Entertainment e Arm já seguiram o mesmo caminho. A motivação é clara: maior liquidez, base de investidores mais ampla e ambiente regulatório mais flexível.
A mudança também reforça um ponto estratégico. Em tempos de competição global por capital, Nova York segue consolidando sua posição como o principal hub para empresas de tecnologia e finanças. A Bolsa de Londres, por sua vez, perde relevância diante da fuga de gigantes.
E os impactos para o investidor brasileiro?
Ainda que a movimentação pareça distante, ela pode abrir precedentes para fintechs latino-americanas que cogitam acessar o mercado americano. Empresas brasileiras que almejam crescimento internacional podem se inspirar na mudança da Wise como modelo de expansão e valorização.
Além disso, o debate sobre estruturas com voto diferenciado volta à tona. Há quem defenda que essa governança garante visão de longo prazo. Outros alertam que pode gerar assimetrias perigosas entre fundadores e acionistas minoritários.
Conclusão: novo ciclo de IPOs pode ganhar força
O mercado deve observar atentamente os efeitos da transição da Wise. Se bem-sucedida, ela pode abrir espaço para uma nova onda de listagens no exterior, consolidando Nova York como o grande palco de capital para fintechs globais.
A decisão da Wise é mais do que uma migração: é um sinal claro de que a geografia do dinheiro está mudando — e os investidores que souberem ler essa mudança sairão na frente.