
- Utilities lideram os programas, com forte geração de caixa e ações ainda descontadas.
- Recorde de 128 programas de recompra indica que empresas veem ações baratas.
- Histórico mostra que picos de recompra antecedem altas do Ibovespa.
As recompras de ações atingiram o maior nível da história da B3, com 128 programas em aberto, superando um terço das grandes companhias listadas. O movimento, visto por analistas como sinal de valuation atrativo, reforça a percepção de que o mercado ainda oferece oportunidades mesmo após a forte alta de 2025.
Para estrategistas, o ritmo acelerado de recompras indica que empresas seguem gerando caixa robusto e preferem reinvestir em seus próprios papéis em vez de direcionar recursos para novos projetos.
Sinal clássico de alta futura
Historicamente, picos de recompras costumam preceder anos positivos para o Ibovespa. Em 2008, 2015 e 2021, explosões de programas foram seguidas de altas expressivas do índice. Agora, após 126 anúncios em 2024 e uma forte valorização em 2025, o volume permanece elevado, o que reforça expectativa de continuidade no ciclo de ganhos.
Daniel Gewehr, do Itaú BBA, lembra que a recompra funciona como termômetro do apetite das companhias. Segundo ele, quando o volume começa a secar, significa que os preços estão mais “justos”. Por isso, o atual patamar sugere que o mercado segue descontado.
Além disso, a recompra reduz a quantidade de ações em circulação e aumenta o lucro por ação, o que tende a impulsionar ainda mais o preço dos papéis no médio prazo.
Caixa forte e setores protagonistas
O avanço das recompras reflete o forte geração de caixa das empresas, especialmente em utilities, que hoje lideram os programas. Companhias de energia, saneamento e serviços públicos adotam a prática como forma eficiente de realocar capital, já que seus projetos têm previsibilidade e margens estáveis.
Setores como bens não duráveis e energia também aparecem com desvios elevados entre valor de mercado e montantes aprovados para compras. Com ações que estavam bastante descontadas no início do ano, as empresas aproveitaram a assimetria para reforçar os programas.
Para analistas, a tendência é de desaceleração leve após as altas recentes, mas o ritmo deve permanecer forte, já que a geração de caixa não deve cair nos próximos trimestres. No entanto, especialistas alertam que recompras precisam ser analisadas com cautela: se a companhia aumentar a dívida para comprar ações caras, o efeito pode ser negativo.
R$ 98,5 bilhões em recompras ativas
Levantamento do Itaú BBA mostra que 100 empresas têm hoje R$ 98,5 bilhões em recompras em aberto. Só entre 16 de outubro e 19 de novembro, mais seis novos programas foram anunciados, envolvendo companhias como Ambev (ABEV3), Panvel (PNVL3), Pague Menos (PGMN3), Embraer (EMBR3), Grendene (GRND3), SLC Agrícola (SLCE3), Equatorial (EQTL3) e Boa Safra (SOJA3).
O volume autorizado representa 1,23% do valor das ações do Ibovespa. Assim, a medida beneficia investidores ao reduzir o free float e impulsionar a tendência de alta dos preços. Neste ano, empresas já recompraram R$ 19,5 bilhões, contra R$ 30 bilhões no ano passado, e ainda há R$ 79 bilhões autorizados para uso.
Por fim, até o momento, utilities representam 27% do total a ser recomprado, seguidas por instituições financeiras (20%) e empresas de bens não duráveis (18%).