
- Ibovespa afunda 2,10%, maior tombo desde abril, puxado por bancos e Petrobras.
- Decisão de Flávio Dino no STF sobre a Lei Magnitsky eleva risco de sanções e abala confiança.
- Trump amplia tarifas e dólar dispara acima de R$ 5,50, reforçando temor de crise diplomática.
O Ibovespa mergulhou nesta terça-feira (19) em sua maior queda em quatro meses, despencando 2,10% e encerrando aos 134.432 pontos. O baque foi impulsionado pelo derretimento das ações de bancos e de Petrobras, além da disparada do dólar para R$ 5,50.
O estopim veio da combinação entre a decisão do ministro Flávio Dino, do STF, sobre a validade da Lei Magnitsky em território nacional, e o endurecimento de Donald Trump nas tarifas comerciais. A leitura do mercado é que o Brasil entrou em rota de colisão com os EUA e que o sistema financeiro pode ser o próximo alvo.
STF pressiona bancos e mercado reage
A decisão de Flávio Dino, que reafirmou que leis estrangeiras não valem no Brasil, ampliou a incerteza para bancos com operações nos EUA. Como Alexandre de Moraes já foi sancionado pela Magnitsky, as instituições temem que o conflito atinja diretamente suas relações com o sistema financeiro internacional.
Assim, o alerta soou forte em mesas de operação. O Banco do Brasil tombou 6,03%, enquanto Bradesco cedeu 3,43%. Itaú caiu 3,05% e Santander desabou 4,88%. Nem mesmo a própria B3 escapou: a bolsa recuou 4,79% no pregão.
Portanto, para analistas, o cenário criou uma espécie de armadilha. Se os bancos seguem o STF, correm risco nos EUA; se seguem os EUA, ficam vulneráveis no Brasil. A leitura é de que o mercado está diante de uma encruzilhada jurídica e política sem precedentes.
Trump amplia tarifas e trava negociações
Nos EUA, Donald Trump decidiu reforçar a pressão. O republicano ampliou tarifas sobre metais e reiterou que a taxação de 50% a produtos brasileiros segue atrelada ao impasse judicial envolvendo Bolsonaro e o STF.
O impacto foi imediato em Wall Street, onde os índices também recuaram diante da expectativa pelo discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, na sexta-feira (22). A leitura dos investidores é que Trump politizou de vez a negociação comercial e que o Brasil pode ser alvo de novas medidas retaliatórias.
Para estrategistas internacionais, o governo brasileiro perdeu canais de diálogo e enfrenta dificuldades para reverter a escalada. A percepção de isolamento aumentou e os riscos para exportadores e bancos se intensificaram.
Dólar dispara e juros avançam
A reação no câmbio foi rápida. O dólar comercial fechou em alta de 1,19%, cravando R$ 5,50, maior cotação em duas semanas. O movimento defensivo reflete a fuga de capital em meio à incerteza institucional.
Além disso, o avanço da moeda americana puxou a curva de juros futuros, com altas de mais de 1% em todos os vencimentos. A leitura é que os investidores exigem mais prêmio de risco para manter capital no Brasil diante da turbulência política e comercial.
Desse modo, Bruno Shahini, especialista da Nomad, avaliou que a decisão do STF “reacendeu questionamentos sobre a segurança jurídica no país” e reforçou a sensação de vulnerabilidade no sistema financeiro.
Setores que resistiram à sangria
Apesar da avalanche de perdas, alguns papéis conseguiram escapar. Minerva disparou 2,93%, enquanto Marfrig subiu 0,17%. A percepção de que as tarifas de Trump já pressionam a inflação nos EUA beneficiou o setor de carnes.
A Vale, por sua vez, fechou estável, com leve alta de 0,08%. Ademais, a empresa oscilou durante todo o pregão, mas foi contida pela queda do minério de ferro na China. Suzano também registrou valorização de 0,78%, assim como Hypera, com avanço de 0,48%.
Mesmo assim, esses ganhos pontuais não alteraram o tom da sessão. Por fim, a queda de Petrobras (-1,05%) e o tombo da Raízen (-9,57%) reforçaram a percepção de que a turbulência externa e o conflito interno agora comandam o rumo da Bolsa brasileira.