
- Inadimplência no agro afeta Fiagros, mas gestores descartam risco sistêmico.
- Fundos com desconto atraem investidores, e setor já capta bilhões em novas emissões.
- Mudança tributária em análise pode alterar rendimento de produtos isentos a partir de 2026.
Os fundos de investimento ligados ao agronegócio, os chamados Fiagros, estão enfrentando pressão neste ano. Assim, a alta da inadimplência no crédito rural assustou investidores e impactou o lucro de instituições como o Banco do Brasil. No entanto, gestores e analistas garantem que não há risco sistêmico, e que o setor já dá sinais de recuperação.
Além disso, o problema, que começou em 2023, teve origem na combinação entre margens comprimidas e endividamento elevado de produtores. Essa realidade afetou especialmente fundos que apostaram em ativos de maior risco e menor liquidez. Ainda assim, os gestores mais conservadores evitaram perdas maiores.
“Fugimos do high yield. Nossa carteira é pulverizada e com foco em crédito sólido. Por isso, não tivemos calotes”, afirmou Márcio Takaya, gestor do fundo CRAA11, da Sparta. Segundo ele, a maior posição do fundo representa apenas 4% do patrimônio total.
Inadimplência no agro e impacto no BB
No primeiro trimestre de 2025, o Banco do Brasil viu seu lucro ajustado cair 20,7% em relação ao mesmo período do ano anterior. A inadimplência no crédito rural saltou de 1,19% para 3,04%, obrigando o banco a aumentar as provisões para perdas de R$ 3 bilhões para R$ 5,2 bilhões.
Mesmo com esse cenário, especialistas explicam que o setor agrícola tem peculiaridades. “A inadimplência no agro é comum pela volatilidade. Mas os créditos normalmente contam com garantias reais, como máquinas e estoques”, diz Guilherme Sharovsky, da Bloxs Capital Partners.
Segundo ele, a situação pode surpreender positivamente no próximo trimestre. “Assim como a inadimplência surpreendeu negativamente, a recuperação de crédito pode ser o destaque seguinte”, avalia. A expectativa é que o Banco do Brasil mantenha postura conservadora até que o cenário se estabilize.
Investidores devem ficar atentos, mas não fugir
A percepção de risco levou investidores a negociar alguns Fiagros abaixo do valor patrimonial, indicando possíveis boas oportunidades. Fundos como VCRA11 e IAGR11, por exemplo, negociaram P/VP de 0,62, e o JGP11, de 0,69. Isso significa que o mercado estava precificando os ativos com mais de 30% de desconto.
No entanto, nem todo fundo barato é uma pechincha. “É preciso avaliar a qualidade da carteira, o nível de diversificação e os emissores envolvidos”, alerta Tales Barros, da W1 Capital. Segundo ele, o investidor não pode se guiar apenas pelo preço.
Ainda assim, o interesse pelo setor continua alto. De acordo com dados da Anbima, foram realizadas 11 ofertas de Fiagros no primeiro trimestre, totalizando R$ 1,6 bilhão em captação. O número é quase quatro vezes maior que o registrado no mesmo período do ano passado.
Mudanças fiscais e crédito pressionado
Outro ponto de atenção é a proposta do governo para tributar produtos isentos como LCI, LCA, CRI, CRA e debêntures incentivadas. A MP 1.303/2025, publicada em junho, prevê a cobrança de 5% de IR a partir de janeiro de 2026, mas apenas para novas emissões. Os papéis adquiridos até o fim de 2025 continuarão isentos.
Segundo Takaya, o investidor precisa considerar que muitas vezes o benefício fiscal é capturado pelo banco, não pelo investidor. “Se um LCA paga 90% do CDI e um CDB 105%, no final o rendimento é igual. A vantagem vai para a instituição, não para o cliente”, explica.
Além disso, os juros altos pressionam o caixa das empresas emissoras de CRAs e outros instrumentos de dívida privada. Isso pode elevar o risco de crédito e impactar negativamente os fundos que têm alta exposição a esses papéis.