Receita x lucro

Frete grátis, IA e um choque no lucro: o que o Mercado Livre não te contou

Estratégia agressiva de frete grátis impulsiona vendas e receita, mas margens pressionadas frustram investidores e derrubam ações após o balanço.

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Imagem/Reprodução: Mercado Livre logo
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  • Receita sobe 34% e alcança US$ 6,8 bi, mas lucro fica abaixo do esperado, com US$ 523 milhões.
  • Política de frete grátis no Brasil impulsiona vendas, mas pressiona margens no curto prazo.
  • Mercado Pago cresce 39% em pagamentos e quase dobra carteira de crédito com apoio da IA.

O Mercado Livre surpreendeu o mercado ao apresentar um crescimento expressivo na receita no segundo trimestre de 2025, que saltou 34% em relação ao mesmo período do ano passado. No entanto, o entusiasmo durou pouco: o lucro líquido ficou bem abaixo das expectativas dos analistas, o que provocou uma queda brusca das ações da companhia no after market da Nasdaq.

Mesmo com uma performance comercial robusta, o lucro líquido recuou para US$ 523 milhões, bem distante da média projetada de US$ 612 milhões. Com isso, as ações chegaram a cair até 8,3% após a divulgação do balanço, refletindo a frustração do mercado com a rentabilidade no curto prazo.

Aposta ousada no Brasil impacta resultado

Grande parte da expansão da receita veio do Brasil, onde a empresa colocou em prática uma nova política de frete grátis a partir de pedidos de R$ 20. A medida, anunciada no início de junho, já mostrou resultados imediatos nas vendas, que cresceram 34% no mês em relação ao ano anterior. No entanto, a contrapartida foi uma pressão direta sobre a margem de lucro.

Segundo o CFO Martín de los Santos, o investimento em frete é estratégico para aumentar a base de usuários e fortalecer o ecossistema do e-commerce no longo prazo. A empresa já avalia expandir a medida para outros países da América Latina. Para os analistas da Bloomberg Intelligence, embora a ação afete a lucratividade agora, ela é essencial para garantir ganhos futuros.

A visão da companhia é que o frete grátis se tornou uma ferramenta poderosa para atrair mais consumidores. Ariel Szarfstein, presidente de comércio e futuro CEO da companhia, afirmou que a estratégia é ousada, mas necessária para consolidar o Mercado Livre como líder na região.

Apesar disso, investidores esperavam mais equilíbrio entre crescimento e rentabilidade. A dificuldade em atingir esse ponto de equilíbrio tem gerado questionamentos sobre a sustentabilidade das margens em meio à expansão agressiva.

Mercado Pago se destaca e crédito dispara

Enquanto o comércio eletrônico enfrenta desafios para entregar lucro, o braço financeiro do Mercado Livre registrou um desempenho animador. O Mercado Pago processou US$ 64,6 bilhões em volume total de pagamentos (TPV), o que representa um avanço de 39% em relação ao ano anterior.

Além disso, o portfólio de crédito quase dobrou, atingindo US$ 9,3 bilhões. A emissão de cartões cresceu em ritmo acelerado, e a empresa revelou que mais de 50% da carteira de crédito já é lucrativa. Segundo De los Santos, esse avanço se deve ao uso intensivo de machine learning e inteligência artificial para prever inadimplência e oferecer melhores condições aos usuários.

O valor bruto de mercadorias (GMV) vendido pelo site subiu 21%, alcançando US$ 15,3 bilhões. Um número crescente de compradores únicos, que chegou a 71 milhões, impulsionou o crescimento. A empresa continua sendo a plataforma de e-commerce com maior valor de mercado na América Latina.

A IA também tem sido aproveitada para turbinar o negócio de publicidade, com foco em campanhas direcionadas. A estratégia ajuda vendedores a alcançar públicos mais qualificados, o que reforça o modelo de negócios baseado em dados e integração.

Impostos na Argentina pesam sobre lucro

Outro fator que ajudou a pressionar os resultados foi o impacto fiscal na Argentina. De acordo com a empresa, o crescimento nas operações locais coincidiu com a aplicação de alíquotas efetivas mais altas, o que reduziu o lucro reportado no trimestre. Ainda assim, a companhia minimizou o peso desse fator e reforçou que ele não representa uma preocupação estrutural.

Szarfstein se prepara para assumir o comando da empresa em janeiro de 2026, substituindo o fundador Marcos Galperin, que passará a ocupar uma função no conselho. A transição sinaliza continuidade na estratégia, com foco em tecnologia, expansão e consolidação regional.

Mesmo com a queda pontual no lucro, o Mercado Livre reforçou que os investimentos visam construir uma base sólida para capturar ganhos expressivos nos próximos trimestres. A aposta é clara: crescer agora para lucrar mais depois.

A combinação de crescimento robusto, foco em tecnologia e visão de longo prazo continua a moldar o futuro da gigante latino-americana. Ainda que o mercado tenha reagido mal no curto prazo, a tese de crescimento segue viva.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.