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Fundos do Banco Master compram fatia de 16% do BRB (BSLI4) sem reportar a CVM

Fundos ligados ao Banco Master compraram ações do BRB antes da aquisição e não comunicaram ao mercado

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Fundos do Banco Master compram fatia de 16% do BRB (BSLI4) sem reportar a CVM

Quatro fundos ligados ao Banco Master compraram participação no Banco de Brasília – BRB (BSLI4), acima de 5%, sem informar a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), segundo apuração do site E-Investidor. O movimento aconteceu meses antes do BRB anunciar a aquisição de 58% do Banco Master, em 28 de março.

A transação, que inclui a compra de 49% das ações ordinárias e 100% das ações preferenciais do Master, mantém Daniel Vorcaro como presidente e controlador da instituição.

A princípio, esses fundos são administrados por gestoras ligadas direta ou indiretamente ao Banco Master: Deneb e Celeno pela Master Corretora, Borneo pela Reag, e Verbier pela WNT. Juntos, eles concentram cerca de 16% do capital total do BRB.

No entanto, a norma da CVM exige que investidores informem ao mercado sempre que ultrapassarem 5% de participação em uma classe de ações (ordinárias ou preferenciais).

Nesse sentido, a omissão pode prejudicar a equidade entre os investidores e levanta suspeitas sobre uma eventual atuação coordenada e uso de informação privilegiada.

Silêncio dos envolvidos

Procuradas pelo E-investidor, a maioria das gestoras envolvidas não quis comentar o caso. A WNT limitou-se a afirmar que atua “em conformidade com a legislação vigente”.

A CVM, por sua vez, informou que acompanha casos relacionados ao mercado de capitais por meio de processos administrativos e denúncias, mas não comenta investigações específicas.

O BRB respondeu que os fundos não detêm mais de 5% do capital total da instituição e que “todas as movimentações relativas ao aumento de capital foram divulgadas via fato relevante”.

Contudo, após os questionamentos, o banco incluiu o fundo Borneo entre os acionistas relevantes em comunicado enviado à CVM em 20 de junho.

Sem transparência, com influência

Além da ausência de comunicação ao mercado, a participação dos fundos teve impacto direto na governança do BRB.

O fundo Borneo votou sozinho com 94% das ações preferenciais em uma assembleia realizada em março, elegendo um representante e uma suplente ao Conselho Fiscal do banco.

Para especialistas, a concentração de poder sem o devido conhecimento público é preocupante. “É difícil dizer que não houve privilégio quando fundos administrados pela corretora de um banco, que sabia das negociações, manifestam interesse pelo mesmo ativo”, diz Cristina Helena Pinto de Mello, professora da PUC-SP. “A comunicação ao mercado deveria ter sido feita para garantir igualdade de condições a todos.”

Fundos-espelho e sincronia de operações

O E-investidor identificou semelhanças entre os fundos que levantam a hipótese de atuação coordenada.

Deneb e Celeno, por exemplo, foram criados no mesmo dia — 26 de dezembro de 2023 — e fizeram movimentações idênticas: compraram R$ 188 milhões em cotas do fundo Verbier, venderam logo em seguida e usaram os recursos para participar do aumento de capital do BRB.

Borneo e Verbier também atuaram de forma parecida: iniciaram aportes em julho de 2023 e adquiriram quantidades idênticas de ações antes da oferta.

As informações são do E-Investidor.

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.