
A possível fusão entre as companhias aéreas Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) recebeu uma crítica contundente de quem conhece de perto os bastidores da regulação da concorrência no Brasil. A economista Cristiane Alkmin Schmidt, ex-conselheira do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), classificou como “inconcebível” a operação, que, segundo ela, criaria um cenário preocupante de concentração no setor aéreo nacional.
Em entrevista a CNN Brasil, a economista afirmou: “Não tenho a menor sombra de dúvida que todas as companhias aéreas passaram por um grande problema, mas o fato concreto é que uma fusão, no Brasil, especificamente, é inconcebível”.
Para ela, a união entre Gol e Azul resultaria num duopólio alarmante, com a Latam dominando 40% do mercado e a nova gigante respondendo por 60% — o que deixaria o consumidor brasileiro com menos opções e tarifas potencialmente mais altas.
Suspeitas
A economista ainda levantou suspeitas sobre o recente acordo de codeshare firmado entre Gol e Azul, que, embora comum no setor, estaria sendo usado para reduzir a competição antes mesmo de uma eventual fusão.
“Eles retiraram diversas rotas da malha de cada um, especialmente aquelas em que havia sobreposição. Como usuária, percebo que voos diretos para cidades do Centro-Oeste e do Nordeste simplesmente desapareceram”, criticou Schmidt.
Para Cristiane, esse comportamento pode configurar gun jumping, quando empresas começam a atuar de forma integrada antes da aprovação oficial do Cade.
Rebatendo o argumento de fragilidade financeira da Azul, Cristiane lembrou que a companhia não entrou em recuperação judicial nem acionou o Chapter 11 nos EUA, como fez a Gol. “Não caberia a tese da empresa falida, de forma alguma. A Azul nem passou pelos critérios para justificar essa teoria”, ressaltou.
A ex-conselheira também questionou a ideia de socorrer a empresa com recursos públicos: “É a maneira mais eficiente e melhor para o consumidor brasileiro?”, provocou. Para ela, o melhor caminho é abrir o setor aéreo a novas companhias.