
A Latache Capital, acionista minoritária da BRF (BRFS3), protocolou um pedido formal à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) solicitando o adiamento por 30 dias da Assembleia-Geral Extraordinária (AGE) marcada para o próximo dia 18 de junho, quando será votada a fusão da companhia com a Marfrig (MRFG3) pelos acionistas.
A gestora levanta sérias acusações e questionamentos sobre a legalidade e a equidade do processo de fusão, ao apontar que a proposta representa um enorme prejuízo aos acionistas minoritários da BRF em benefício dos controladores da Marfrig.
No documento endereçado ao presidente da CVM, João Pedro Nascimento, a Latache afirma que a fusão seria, na prática, uma “transferência deliberada de valor dos minoritários da BRF para os controladores da Marfrig” — em especial Marcos Molina e sua esposa, Márcia Molina, ambos com participação relevante nos conselhos das duas companhias.
A gestora aponta ainda a existência de:
- “Insuficiência de documentação” para avaliar a proposta,
- “Ilegalidades na formulação da ordem do dia” da AGE,
- “Ausência de independência dos comitês” que analisaram a operação,
- E, talvez o ponto mais sensível, a “participação direta dos controladores nas deliberações do conselho”, o que, segundo a gestora, compromete gravemente a isenção do processo.
O pedido ainda questiona a relação de troca proposta entre as ações de BRF e Marfrig, afirmando que ela é “extremamente desfavorável aos minoritários”.
Segundo a Latache, há uma “brutal disparidade” entre o critério adotado para beneficiar a Marfrig e aquele que seria justo para os acionistas da BRF.
Movimento atípico no mercado
Outro ponto levantado pela gestora foi o comportamento suspeito dos papéis das duas companhias no período imediatamente anterior à formulação da proposta de fusão.
A Latache menciona que, justamente durante o chamado “período de silêncio” — quando as companhias limitam suas comunicações ao mercado — as ações da BRF despencaram, enquanto os papéis da Marfrig se valorizaram.
Para a gestora, essa movimentação teria influenciado diretamente a relação de troca usada como base para a operação, o que reforça a suspeita de que os preços possam ter sido “artificialmente manipulados” para favorecer os termos do acordo.
O que está em jogo?
Caso a CVM acolha o pedido da Latache, a AGE pode ser adiada, dando mais tempo para análise e contestação da operação.
No entanto, se a assembleia acontecer conforme o cronograma atual, o grupo controlador — que inclui a própria Marfrig — poderá exercer seu poder de voto e aprovar a fusão mesmo diante da forte oposição dos minoritários.
A fusão entre Marfrig e BRF é uma das mais ambiciosas e polêmicas do setor de proteína animal no Brasil. Em jogo está a criação de um novo colosso do agronegócio, mas também a confiança do mercado na governança corporativa, na proteção aos minoritários e na lisura das operações de M&A no país.
Com informações do Lauro Jardim, no O Globo.