
A Gerdau (GGBR3) está revisando os rumos de seu fundo de corporate venture capital (CVC), o Gerdau Next Ventures, criado em 2019 com um capital comprometido de US$ 80 milhões. Após montar um portfólio com 11 startups investidas, a companhia busca agora compradores para esses ativos, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg Línea. As negociações estão sob responsabilidade da Primus Ventures (ex-Catarina Capital).
Embora não confirme o desmonte do fundo, a Gerdau declarou que “revisa continuamente o portfólio de ativos de seu CVC com o objetivo de gerar valor para seu negócio”.
A realidade, no entanto, é que o fundo está paralisado desde meados de 2023, após aportar apenas metade do capital previsto e enfrentar obstáculos operacionais, estratégicos e culturais.
Uma promessa que virou dor de cabeça
Lançado antes da febre de CVCs que tomou conta das grandes corporações brasileiras entre 2020 e 2021, o Gerdau Next Ventures nasceu com ambição global e a promessa de diversificar a receita do grupo com negócios inovadores ligados à cadeia do aço.
A liderança do projeto ficou a cargo de Juliano Prado, vice-presidente contratado em 2020 com passagens por Shell, Raízen e Cosan — ele deixou a companhia em abril de 2023.
O responsável pela gestão dos investimentos, Arthur Alves, também saiu no mesmo período, rumo ao Grupo Boticário, e não foi substituído.
Com a perda de seus líderes e o avanço tímido dos resultados, o fundo perdeu tração internamente, e a mudança no ciclo do aço agravou ainda mais a situação.
“O humor da companhia mudou porque o ciclo do aço começou a apertar”, disse uma fonte.
Em 2023, a Gerdau viu sua receita líquida cair 16,4% e o lucro líquido ajustado despencar 40,9%, para R$ 6,8 bilhões.
O caso Plant Prefab: o começo do fim?
A decisão de recuar com o fundo teria sido acelerada após um erro estratégico emblemático: os aportes na Plant Prefab, startup americana de construção modular em madeira — um modelo de negócio que não tinha sinergia direta com o aço.
O Gerdau Next Ventures participou das rodadas Série B e Série C da empresa, assumindo 15% do negócio e chegando a comprometer mais da metade do capital investido total do fundo em uma única empresa.
“Acho que ali começou o fim do venture capital da Gerdau”, declarou uma fonte próxima às operações. A startup fracassou, e o prejuízo virou alerta vermelho no comitê executivo da siderúrgica.
Conservadorismo cultural e descompasso interno
Mais do que erros pontuais, o perfil conservador e centenário da Gerdau também teria dificultado o sucesso do CVC. Mesmo com o CEO Gustavo Werneck sendo um dos principais defensores da iniciativa, o entusiasmo não se espalhou entre os executivos de longa data, segundo relatos.
“É difícil para uma companhia aceitar que vai alocar US$ 80 milhões e que provavelmente US$ 70 milhões vão ‘virar pó’, mas que os US$ 10 milhões restantes podem pagar os US$ 70 milhões e ainda gerar retorno. Essa é a lógica do venture capital”, explicou uma fonte ouvida pela Bloomberg Línea.
O que vem pela frente?
Enquanto tenta se desfazer das participações em startups como Docket, InstaCasa, aifleet e 3DEO, a Gerdau aposta em um modelo mais pragmático: inovação aberta por demanda, com programas específicos voltados à resolução de desafios operacionais.
Um exemplo é a parceria com o Instituto Caldeira para desenvolver soluções tecnológicas voltadas à gestão fiscal da companhia.
Além disso, a Gerdau mantém investimentos na área de energia renovável, como os projetos solares em parceria com a Newave Energia, sendo sócia em 40% do capital.
A planta de Arinos (MG) já foi inaugurada, enquanto outra unidade, em Barro Alto (GO), está em construção com entrega prevista para 2026.
Com informações da Bloomberg.