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Gestores antecipam o “trade eleitoral” e apostam forte no Ibovespa, aponta BofA

Pesquisa do Bank of America revela que gestores já estão de olho no cenário político brasileiro e veem o mercado doméstico como destaque frente aos demais países da América Latina

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A disputa presidencial de 2026 no Brasil ainda está distante no calendário eleitoral, mas já começa a movimentar o mercado financeiro. Segundo uma pesquisa do Bank of America (BofA), a maioria dos gestores acredita que o chamado “trade eleitoral” será antecipado — e o posicionamento dos investidores pode começar já neste segundo semestre de 2025.

De acordo com o levantamento, 57% dos gestores consultados esperam que o movimento de alocação com foco nas eleições comece no terceiro ou quarto trimestre deste ano, contrariando a expectativa anterior de que isso ocorreria apenas em 2026.

Para o BofA, o resultado indica uma mudança clara de percepção: “Mais respondentes acreditam que os investidores começarão a adicionar posições para as eleições no quarto trimestre de 2025”, destacaram os analistas.

A sondagem mostra que mais de 40% dos entrevistados apontam o 4T25 como ponto de partida para o movimento eleitoral, enquanto uma minoria (menos de 10%) vê esse movimento já neste trimestre. Outro pequeno grupo afirma que o posicionamento eleitoral já está em curso.

Ibovespa forte e Brasil à frente do México

Mesmo com incertezas externas — como a nova rodada de tarifas do presidente Donald Trump, incluindo taxa de 50% sobre produtos brasileiros —, o otimismo em relação à bolsa brasileira (Ibovespa – IBOV) aumentou significativamente.

Segundo o BofA, 83% dos gestores acreditam que o índice vai ultrapassar os 140 mil pontos até o fim de 2025, uma forte alta em relação aos 66% que apostavam nisso na pesquisa anterior. O Ibovespa fechou a segunda-feira (14) próximo dos 135.300 pontos.

O Brasil também deve ganhar destaque regional: a maioria dos entrevistados acredita que o mercado brasileiro vai superar o mexicano nos próximos seis meses, impulsionado principalmente por setores como financeiro, consumo discricionário e utilities (serviços públicos).

Selic, dólar e crescimento

A expectativa de cortes na taxa básica de juros (Selic) também ajuda a embalar o otimismo. Mais de 80% dos gestores acreditam que o Banco Central já encerrou o ciclo de alta, mantendo a Selic em 15% ao ano. E 43% esperam que os cortes comecem ainda em 2025.

No câmbio, a projeção média é de um dólar a R$ 5,45 até o fim do ano, com a maior concentração das respostas entre R$ 5,41 e R$ 5,70. A tendência de um dólar globalmente mais fraco reforça a expectativa de alívio no câmbio e maior estabilidade para o real.

Em relação ao desempenho da economia brasileira, o otimismo deu lugar a um pouco mais de cautela: a maioria dos gestores agora prevê um crescimento do PIB entre 1% e 2% em 2025, abaixo da faixa de 2% a 3% indicada na pesquisa anterior.

América Latina: Chile em alta, México em baixa

Fora do Brasil, a visão dos gestores para a América Latina é mais dividida. O México teve um forte recuo de confiança: nenhum dos entrevistados demonstrou otimismo com os ativos mexicanos no curto prazo. As incertezas sobre a política comercial dos EUA, especialmente novas tarifas, pesam negativamente.

Nos países andinos, o Chile desponta como destaque, visto como o mais promissor da região para os próximos seis meses.

No entanto, os preços do cobre, impulsionados também pelas tarifas norte-americanas, surgem como o principal risco para esses mercados.

Na Argentina, apesar da forte queda do índice MSCI em 2025 (recuo de 22% em dólares), a maioria dos gestores mantém uma postura neutra ou levemente positiva para os ativos locais.

Quem respondeu?

A pesquisa ouviu 30 gestores de fundos com atuação na América Latina, que juntos administram cerca de US$ 63 bilhões em ativos.

Do total, 57% são gestores de portfólio, 13% ocupam cargos de CIO (chief investment officer) e 20% atuam como estrategistas, economistas ou responsáveis por alocação.

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.