GOLL54: GOL dá "golpe" em acionistas e derrete 42% na Bolsa

Nesta quinta-feira (17), as ações preferenciais da Gol (GOLL54) despencaram cerca de 42% na B3, chegando a R$ 5,45 no fechamento — após uma sequência de quedas que superaram 60% nos pregões anteriores

GOLL54 afunda e acende alerta no mercado

A semana foi turbulenta para os investidores da Gol Linhas Aéreas. A ação preferencial da companhia, negociada sob o ticker GOLL54, derreteu 42% nesta quinta-feira (17), fechando o pregão cotada a R$ 5,45. A queda veio na esteira da conclusão do aumento de capital bilionário anunciado pela empresa, que não obteve a adesão esperada dos acionistas minoritários.

A forte desvalorização ocorre após a finalização do prazo de subscrição das novas ações, parte do plano de reestruturação financeira da companhia aérea em recuperação judicial nos Estados Unidos. O impacto da operação, que envolveu a emissão de trilhões de papéis a preços simbólicos, foi brutal na percepção do mercado e na estrutura de governança da empresa.

Aumento de capital de R$ 12 bilhões e diluição extrema

No dia 6 de junho, a Gol lançou uma oferta para aumento de capital no valor de R$ 12 bilhões. Foram emitidas cerca de 8,19 trilhões de ações ordinárias e 968 bilhões de ações preferenciais. O preço de emissão foi praticamente simbólico: R$ 0,0002857 por ação ordinária e R$ 0,01 por preferencial.

A resposta dos investidores, no entanto, foi desanimadora. Nenhuma ação ordinária foi subscrita por minoritários e apenas 0,76% das preferenciais foram adquiridas. O controlador, representado pelo veículo GOL Investment Brasil, absorveu quase a totalidade dos papéis. Com isso, a diluição chegou a 99,8% e praticamente todo o capital da companhia ficou concentrado em um único grupo.

Esse cenário gerou um forte desconforto entre analistas e investidores. A baixa adesão foi interpretada como um sinal de desconfiança em relação à saúde financeira da empresa e à capacidade de sua recuperação. Além disso, a concentração de ações levanta dúvidas sobre o cumprimento das regras de governança da B3, como o percentual mínimo de ações em circulação no mercado.

Ticker confuso e distorções de preço

Outro fator que contribuiu para o colapso dos papéis foi a mudança estrutural promovida no ticker e no lote padrão das ações. A nova ação preferencial (GOLL54) passou a ser negociada em lotes de mil unidades, o que gerou confusão nos preços. Embora o papel esteja cotado a R$ 5,45, o valor real por ação é inferior a um centavo.

A complexidade da operação, somada à baixa transparência na comunicação com o mercado, dificultou o entendimento por parte dos investidores. Muitos foram pegos de surpresa com a magnitude da diluição e o impacto direto na precificação dos ativos.

Analistas apontam que esse tipo de reestruturação pode ser eficiente no papel, mas sem confiança e clareza, os danos à reputação e à liquidez dos papéis são inevitáveis. A Gol ainda precisa converter os recibos de subscrição (GOLL10) em ações efetivas, o que deve manter a volatilidade elevada nos próximos dias.

Riscos de governança e futuro incerto

Com a concentração acionária nas mãos do controlador, a Gol corre o risco de descumprir os critérios mínimos exigidos para permanência no segmento de governança da B3. Isso pode implicar em sanções e até rebaixamento da classificação da empresa no mercado.

Além disso, a companhia ainda enfrenta os desafios operacionais típicos do setor aéreo, como a alta do dólar, margens reduzidas e concorrência acirrada. A reestruturação financeira, apesar de necessária, pode não ser suficiente para garantir a sustentabilidade no médio prazo.

O mercado observa com cautela os próximos passos da Gol. A recomposição do free float, a conversão das ações subscritas e a capacidade da empresa em gerar caixa serão determinantes para restaurar a confiança dos investidores.

Resumo em tópicos:

• A ação GOLL54 caiu 42% após baixa adesão no aumento de capital de R$ 12 bilhões, concentrando o controle nas mãos do veículo GOL Investment.
• A diluição extrema e mudanças no lote e ticker confundiram o mercado, resultando em distorções de preço e forte desvalorização.
• A Gol agora enfrenta questionamentos sobre governança e precisa recompor o free float para evitar sanções da B3.