Menos riscos operacionais

Golpe no dólar? BRICS corre para lançar ‘Pix Global’ e deixa Trump em alerta

Sistema de pagamentos do bloco avança com blockchain e integração aos arranjos locais, promete reduzir custos e contornar riscos de sanções, enquanto eleva a tensão com Washington.

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Golpe no dólar? BRICS corre para lançar ‘Pix Global’ e deixa Trump em alerta
  • O BRICS acelera o BRICS Pay para reduzir a dependência do dólar e oferecer liquidação em moedas locais com custo menor
  • A rede usa tecnologia blockchain com operação descentralizada e integra Pix, UPI, IBPS e outros arranjos nacionais
  • A Casa Branca reage com nova pressão tarifária enquanto o Brasil vê chance de baratear exportações e liderar a padronização em 2026

O BRICS acelerou o desenvolvimento do BRICS Pay, uma rede de pagamentos transfronteiriços que pretende baratear e agilizar transferências entre os países do bloco e novos integrantes. A proposta, que ganhou fôlego desde a cúpula de 2024 na Rússia, mira menos dependência do dólar nas liquidações.

Não se trata de uma moeda única. O plano aposta em interoperabilidade entre sistemas nacionais, como Pix, UPI indiano e IBPS chinês e, em tecnologias como blockchain, QR codes e carteiras digitais, o que, em tese, também reduziria riscos operacionais.

O que muda nas transações

Se o projeto avançar, empresas poderão liquidar em moedas locais com menor fricção cambial. Assim, exportadores de alimentos, minério e energia ganham alternativa para fechar negócios com China, Índia e Oriente Médio sem conversão obrigatória ao dólar.

Além disso, pagamentos em tempo real prometem cortar custos de bancos correspondentes, o que tende a melhorar prazos e caixa.

Por outro lado, a adoção exigirá regras comuns de compliance e de tributação para evitar gargalos, já que cada país tem supervisão própria.

Ainda assim, apoiadores afirmam que a rede ajuda a blindar fluxos de comércio diante de sanções e de choques de liquidez, sobretudo em períodos de estresse.

Como o ‘Pix Global’ deve funcionar

O backbone técnico usa o DCMS, sistema de mensagens descentralizado criado na Universidade Estatal de São Petersburgo, com capacidade de processar até 20 mil mensagens por segundo. Como cada país opera seu próprio nó, a rede dispensa um controlador central, embora mantenha criptografia em múltiplas camadas.

O desenho prevê código aberto após testes, carteiras digitais interoperáveis e liquidação por QR code. Portanto, a experiência do usuário tende a ser parecida com a de sistemas instantâneos já consolidados.

No Brasil, a integração passaria por Pix e, futuramente, pelo Drex, o real tokenizado. Isso facilitaria a conexão com SBP (Rússia), UPI (Índia), IBPS (China) e PayShap (África do Sul).

Mesmo com avanços, a rota completa ainda depende de padronização de mensagens, de câmaras de compensação e de arranjos de garantia multilateral pelo Novo Banco de Desenvolvimento.

A reação dos EUA e a nova disputa

A Casa Branca vê a iniciativa como ameaça à primazia do dólar. Donald Trump já classificou o BRICS como grupo “antiamericano”, sinalizou tarifa de 10% a países alinhados e elevou tarifas a 50% sobre parte dos produtos brasileiros.

Washington também pressiona por investigações em arranjos instantâneos, alegando potenciais barreiras a empresas dos EUA.

Enquanto isso, o BRICS Pay busca operar fora do SWIFT, o que reduz a capacidade ocidental de bloqueio, mas amplia o escrutínio regulatório internacional.

O resultado é um tabuleiro mais tenso, em que infraestrutura financeira vira peça central da disputa geopolítica.

Brasil no tabuleiro e próximos passos

Para o Brasil, a rede abre chance de baratear exportações e ampliar mercados em Emirados, Irã, Egito e Etiópia. Ao mesmo tempo, exige governança técnica robusta, testes de segurança e regras claras contra lavagem de dinheiro.

Como o país preside o BRICS em 2026, a agenda inclui destravar interoperabilidade, alinhar tributação e definir critérios de câmbio e garantias.

Economistas projetam que, até 2030, o sistema pode movimentar centenas de bilhões de dólares em transações anuais, se a adesão ganhar escala.

Mesmo assim, autoridades repetem que o objetivo é diversificar meios de pagamento, não substituir o dólar de imediato, embora o recado político seja inequívoco.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.