Jogo travado

Governo perde chance de conter tarifaço e deixa Brasil mais vulnerável aos EUA

Cancelamento de reunião estratégica com secretário do Tesouro americano é visto como retrocesso e aumenta incertezas no setor produtivo brasileiro.

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Lula e Trump
  • Cancelamento de reunião entre Haddad e secretário do Tesouro dos EUA trava negociações sobre tarifaço
  • Diplomacia brasileira vê interferência política nos Estados Unidos como obstáculo ao diálogo
  • Setor produtivo segue sem clareza sobre medidas de apoio prometidas pelo governo

O Brasil sofreu um revés nas negociações comerciais com os Estados Unidos após o cancelamento, nesta quarta-feira (13), de uma reunião entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent. O encontro, articulado há semanas, era considerado essencial para tentar conter as tarifas de 50% sobre importações anunciadas pela Casa Branca.

A reunião serviria para que o Brasil reforçasse seus argumentos sobre o impacto do tarifaço para as economias de ambos os países e defendesse o caráter superavitário de sua relação comercial com os EUA. O cancelamento, porém, interrompe uma das frentes de diálogo mais promissoras.

Negociações travadas

A diplomacia brasileira mantém a posição de que soberania e independência das instituições não entram na mesa de negociações. Essa postura, entretanto, somada à ausência de encontros de alto nível, vem dificultando a criação de pontes com Washington.

Fontes próximas ao Itamaraty apontam que grupos políticos americanos podem estar interferindo nas conversas, alimentando resistências dentro do próprio governo dos EUA. Sem a reunião com Bessent, figura vista como moderada, analistas consideram que a margem para flexibilizar o tarifaço fica menor.

O Brasil também contesta os argumentos que justificam as tarifas, defendendo que o saldo positivo de sua balança comercial com os Estados Unidos não configura ameaça ao mercado interno americano.

Reflexos no setor produtivo

Enquanto as negociações não avançam, empresas brasileiras aguardam medidas concretas de apoio. O governo federal já apresentou um esboço de ações, mas sem detalhar prazos, critérios ou condições para acesso às linhas de crédito prometidas.

A incerteza atinge diferentes segmentos, que ainda não sabem quais empresas serão contempladas por compras governamentais nem qual será o custo efetivo do financiamento. Essa falta de clareza tem travado o planejamento de investimentos e dificultado decisões de médio prazo.

O Ministério da Fazenda afirma que segue mapeando as necessidades de cada setor, mas não apresentou previsão para anunciar as medidas finais.

Cenário de risco

Especialistas avaliam que a interrupção das conversas representa sinal negativo para investidores e empresários, elevando o risco de deterioração nas relações comerciais.

Caso não haja retomada imediata do diálogo, o tarifaço pode entrar em vigor sem ajustes que minimizem seus impactos.

Para o setor produtivo, o risco é duplo: perda de competitividade no mercado americano e atraso na adoção de medidas internas que compensem as barreiras impostas. Sem uma estratégia clara, o Brasil corre o risco de ver setores inteiros prejudicados antes mesmo de uma reação diplomática efetiva.

Luiz Fernando

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.

Licenciado em Letras e Graduando em Jornalismo pela UFOP; Atua como redator realizando a cobertura sobre política, economia, empresas e investimentos.