Índice

Ibovespa dispara e fecha semestre em forte alta: o que esperar dos próximos meses?

Baixa popularidade de Lula, menor inflação e enfraquecimento do mercado de trabalho animam investidores

Apoio

o que e ibovespa como o indice funciona e como investir
o que e ibovespa como o indice funciona e como investir

O Ibovespa (IBOV) caminha para encerrar o primeiro semestre de 2025 com avanços expressivos de 15,6%, refletindo uma conjunção de fatores internos e externos que favoreceram o apetite por risco. Na última segunda-feira (30), o principal índice da B3 fechou o pregão com alta de 1,45%, aos 138.855 pontos, puxando o resultado mensal para um ganho acumulado de 1,57% em junho.

Esse cenário foi reforçado pelo Boletim Focus, que mostrou nova revisão para baixo na projeção da inflação de 2025, de 5,24% para 5,20%, após a divulgação do IPCA-15 de junho, que veio mais fraco do que o esperado (+0,26%).

A combinação de menor inflação e enfraquecimento do mercado de trabalho fez a curva longa de juros recuar, beneficiando ações de consumo e construção.

No câmbio, o dólar seguiu em trajetória de queda, recuando 0,91%, para R$ 5,434. Em junho, a moeda americana acumulou baixa de 4,98%, e no semestre, queda de 12,08% frente ao real — reflexo da atratividade dos ativos brasileiros em meio a um cenário global mais construtivo e fundamentos locais mais sólidos.

O que esperar do Ibovespa no segundo semestre?

O primeiro semestre de 2025 está prestes a se tornar o melhor dos últimos três anos em termos de entrada de capital estrangeiro na Bolsa brasileira e, consequentemente, no Ibovespa. Até o dia 25 de junho, o saldo já somava R$ 25,2 bilhões, superando com folga os R$ 17 bilhões de 2023 e revertendo o fluxo negativo de R$ 40,1 bilhões registrado em igual período de 2024.

A expectativa é que esse movimento continue nos próximos meses, impulsionado por fatores externos e internos. A possível queda dos juros nos Estados Unidos a partir de setembro e a percepção de que o Brasil pode adotar uma política fiscal mais restritiva após as eleições de 2026 reforçam o apetite estrangeiro por ativos locais.

A recente derrubada do aumento do IOF pelo Congresso, por exemplo, foi vista como sinal de enfraquecimento do governo Lula e acendeu o debate sobre um possível redirecionamento fiscal com um novo presidente.

Segundo analistas do JPMorgan, o mercado foca menos nas preocupações fiscais atuais e mais em temas como o ciclo de cortes da Selic e o cenário eleitoral de 2026.

O banco mantém recomendação overweight para a Bolsa brasileira, ao lado de países como Índia, Coreia do Sul e Grécia.

Para Eduardo Carlier, da Azimut Brasil, a queda de popularidade de Lula em pesquisas recentes justifica o otimismo com uma eventual mudança de governo, embora ele alerte que ainda é cedo para apostas definitivas.

Já Enrico Cozzolino, da Levante, prevê que fatores políticos terão peso crescente nas decisões de alocação de recursos — e, com isso, a volatilidade deve continuar elevada.

Outro fator que joga a favor do Brasil é o movimento global de diversificação de portfólios, num ambiente de queda do dólar.

Mesmo com juros ainda altos no país, analistas apontam que a renda variável segue descontada, o que favorece a entrada de recursos externos.

A expectativa de que o Federal Reserve inicie cortes de juros até o fim do ano também pode acelerar esse fluxo. Gabriel Mollo, do Banco Daycoval, acredita que a virada poderá ocorrer já em setembro. “A partir do momento em que esse cenário se consolidar, vai estimular a entrada de capital na B3”, diz.

Internamente, o cenário de Selic contracionista por tempo prolongado não deve afastar o investidor estrangeiro. Ao contrário: maior previsibilidade pode até melhorar o valuation de empresas.

Se vierem bons resultados corporativos nos próximos trimestres, o Ibovespa pode retomar os 140 mil pontos e até chegar aos 145 mil até o fim do ano, projeta Kevin Oliveira, da Blue3.

Mas nem tudo são flores. Cozzolino alerta que medidas populistas do governo, para recuperar apoio político, podem comprometer o ajuste fiscal e limitar o avanço da Bolsa. “Boa parte da alta aconteceu quando o governo estava em silêncio. Quando voltou a falar, a Bolsa caiu. Depois, corrigiu. Mas o risco continua”, resume.

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.