Investidores atentos

Ibovespa pode estar perto do limite: XP alerta para freio no rali

Casa pontua que avalia que os recentes ganhos do mercado abriram espaço para uma pausa e até mesmo para uma realização de lucros

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ibovespa queda ibov
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Após um rali impressionante que levou o Ibovespa a renovar quatro vezes sua máxima histórica nos últimos 30 dias, analistas começam a ficarem mais cautelosos: o fôlego da Bolsa brasileira pode estar acabando — ao menos no curto prazo.

A XP Investimentos avalia que os recentes ganhos do mercado abriram espaço para uma pausa e até mesmo para uma realização de lucros, diante dos riscos macroeconômicos que seguem elevados tanto no Brasil quanto no exterior.

O movimento de cautela já deu as caras no fim de maio. Nos últimos três pregões do mês, o principal índice da B3 fechou em queda.

Ainda assim, acumulou alta de 1,45% no mês e sustenta um expressivo avanço de 13,9% em 2025.

Rali do Ibovespa impulsionado por capital estrangeiro

Grande parte desse rali foi alimentado por uma rotação global de portfólios, que tirou recursos dos Estados Unidos para alocar em mercados emergentes — e o Brasil foi um dos destinos favoritos.

Segundo dados da B3, os investidores estrangeiros injetaram R$ 12,24 bilhões no mercado entre os dias 2 e 29 de maio. No acumulado de 2025, esse montante já chega a R$ 23 bilhões.

Outro fator que ajudou a sustentar o bom humor foi a expectativa de manutenção dos juros nos EUA, o que favorece ativos de risco nos mercados emergentes. Mas, para que o rali tenha continuidade, será preciso mais do que otimismo.

Riscos à frente: prêmio de risco em baixa e lucros em queda

Segundo a XP, o Ibovespa está começando a perder atratividade frente a outros investimentos. O prêmio de risco do índice — ou seja, o ganho esperado em relação a ativos mais seguros — caiu para 5,3% em maio, abaixo da média histórica e bem inferior aos 7,2% registrados em dezembro do ano passado.

Enquanto isso, a renda fixa segue competitiva: as NTN-Bs (títulos do Tesouro indexados à inflação) continuam oferecendo taxas reais em torno de 7,2% ao ano.

Para que a Bolsa continue atrativa, seria necessário um recuo mais acentuado nos juros reais — algo que ainda não se materializou.

Além disso, as expectativas de lucros por ação (LPA) para o Ibovespa em 2025 e 2026 também foram revisadas para baixo.

As estimativas caíram 5,5% e 5,2%, respectivamente, com destaque negativo para empresas ligadas a commodities, cujos lucros projetados despencaram 16,1% com a queda nos preços e o enfraquecimento da atividade global.

Cenário externo turvo e política monetária em xeque

No exterior, as tensões comerciais seguem pesando no radar dos investidores. Na última sexta-feira (30), o presidente Donald Trump anunciou a duplicação das tarifas sobre aço e alumínio, de 25% para 50%, medida que entra em vigor nesta quarta-feira (4).

O ambiente de incerteza econômica global, reforçado pela instabilidade das políticas tarifárias dos EUA, tem desanimado empresas e investidores.

No front doméstico, as dúvidas giram em torno do compromisso do governo com a âncora fiscal e da capacidade do Banco Central de entregar os cortes de 1,75 ponto percentual na Selic até o fim de 2026, conforme espera o mercado. “Preocupações fiscais persistentes podem continuar pressionando os juros longos, limitando o fechamento da curva — o que é uma condição essencial para que o rali atual se sustente”, diz a XP.

Apesar dos obstáculos, a corretora ajustou sua projeção para o Ibovespa no fim de 2025, passando de 149 mil para 150 mil pontos. Uma elevação modesta, que sinaliza mais otimismo estrutural do que entusiasmo com o curto prazo. A recomendação, ao que tudo indica, é de cautela.

José Chacon
José Chacon

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.

Jornalista em formação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com passagem pela SpaceMoney. É redator no Guia do Investidor e cobre empresas, economia, investimentos e política.