
Apesar do choque inicial, o anúncio do presidente dos EUA, Donald Trump, de taxar em 50% todos os produtos brasileiros exportados para o país gerou apenas perdas moderadas no mercado financeiro. Desde o comunicado da nova tarifa, o Ibovespa (IBOV) acumulou sete pregões consecutivos de queda, mas com baixa total de apenas 2,9% – desempenho modesto, considerando a gravidade do anúncio.
Para analistas e gestores, esse impacto contido deve continuar, a menos que as tensões comerciais se agravem.
“O Brasil não é o único alvo das tarifas e é uma economia relativamente fechada, com baixa dependência dos EUA”, afirmou Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, à Bloomberg Línea. “Não vejo esse movimento como algo que vá afastar investidores estrangeiros do país.”
Ibovespa perto das máximas e dólar volta a subir
Mesmo com a volatilidade recente, o Ibovespa permanece perto da máxima histórica nominal (141.264 pontos) e acumula alta de 12,8% no ano.
Já o dólar, que vinha em tendência de queda, rompeu o padrão e subiu 2,35% só em julho – refletindo o estresse pontual causado pelas tarifas.
Ainda assim, o real acumula valorização de 10% contra o dólar em 2024, acompanhando a queda de 9,5% do Dollar Index, que mede a força da moeda americana frente a uma cesta de outras moedas fortes.
Fluxo estrangeiro e juros altos
Para Ferreira, o risco maior no curto prazo está nos Estados Unidos: “Se as ações americanas, especialmente as ‘Sete Magníficas’, voltarem a brilhar com os balanços do segundo trimestre, podem atrair parte do capital global que hoje busca diversificação em mercados emergentes como o Brasil.”
No entanto, o juro real ainda elevado no Brasil continua favorecendo o “carry trade” – prática de investidores internacionais que aplicam recursos onde o retorno real (acima da inflação) é mais alto.
Se o Banco Central brasileiro mantiver os juros altos por mais tempo e o Fed (banco central dos EUA) iniciar cortes a partir de setembro, o diferencial deve se ampliar, fortalecendo o real, mesmo com tensões comerciais.
Trump vs. Brasil: risco é real, mas efeito depende da diplomacia
O governo brasileiro prefere buscar uma solução diplomática, mas não descarta acionar a Lei de Reciprocidade Econômica, que permite tomar contramedidas comerciais.
Até agora, Trump não sinalizou disposição para negociação – pelo contrário, o Escritório do Representante do Comércio dos EUA abriu uma investigação contra o Brasil, citando práticas desleais em setores como etanol e Pix.
Se a crise evoluir para uma guerra comercial aberta, o impacto pode aumentar. “Nesse cenário, a balança comercial brasileira sofreria, e o dólar tenderia a subir mais”, avalia Ferreira.
Impacto político pode favorecer Lula
A disputa também tem reflexos na política interna. Para Ferreira, o embate com os EUA pode fortalecer a imagem do presidente Lula, que vinha enfrentando queda de popularidade. “Esse confronto pode reposicionar o presidente como defensor do interesse nacional, o que pode ter efeito eleitoral”, diz.
Pesquisas divulgadas nesta semana mostram melhora na avaliação do governo: a Genial/Quaest apontou queda na desaprovação (de 57% para 53%) e alta na aprovação (de 40% para 43%). Já o levantamento da AtlasIntel para a Bloomberg mostrou aprovação de Lula subindo de 47,3% para 49,7%.