
- Trump assina tarifa de 50%, mas isenta setores como aviação e agronegócio
- Ibovespa sobe 0,95% após reviravolta no fim do pregão; Embraer dispara
- Fed frustra mercado ao manter juros sem sinal de corte; dólar sobe a R$ 5,58
A quarta-feira (30) foi, para o mercado financeiro, o dia mais insano do ano. O Ibovespa chegou a cair quase 0,6% com sanções dos EUA ao ministro Alexandre de Moraes e o fantasma do tarifaço de Trump, mas virou no fim e fechou em alta de 0,95%, aos 133.989,74 pontos. A reviravolta veio após a divulgação da ordem executiva com exceções surpreendentes às tarifas, o suficiente para disparar Embraer e aliviar o pânico momentâneo.
Enquanto isso, investidores ainda digeriam a decisão do Federal Reserve, que manteve os juros americanos pela quinta vez consecutiva, mas sem unanimidade no comitê, frustrando quem esperava sinalizações de corte. Para completar o turbilhão, dados de PIB acima do esperado nos EUA e na Europa confundiram o sentimento nos mercados globais.
Embraer salva o dia e tarifaço vem com alívio parcial
O grande responsável pela virada do Ibovespa foi Donald Trump, de novo. Após uma tarde tensa, a Casa Branca divulgou a íntegra da ordem executiva que impõe tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. A decisão manteve o prazo de entrada em vigor para 1º de agosto, mas incluiu uma série de exceções que salvaram setores inteiros da penalidade.
Entre os produtos poupados estão peças de aeronaves e suco de laranja, dois dos mais importantes da pauta de exportação brasileira. A Embraer (EMBR3), diretamente beneficiada, disparou 10,93% e chegou a entrar em leilão. O alívio foi imediato, tanto na B3 quanto no câmbio.
Embora o governo brasileiro afirme que tentou negociar, não houve recuo no prazo. Senadores alertaram que sanções podem se estender ao agronegócio, principalmente se os EUA endurecerem contra países que fazem negócios com a Rússia, o que inclui o Brasil no setor de fertilizantes.
Fed joga balde de água fria nos mercados
Do outro lado do mundo, o Fed manteve os juros entre 4,25% e 4,50% ao ano, como esperado. Mas o detalhe que incomodou Wall Street foi a falta de sinalização sobre cortes, e a revelação de que dois membros do comitê já votaram a favor de reduções agora. Jerome Powell esfriou o clima ao dizer que ainda não há decisão sobre um corte em setembro.
Os índices americanos fecharam mistos. O Nasdaq sentiu mais, enquanto o S&P500 oscilou. O PIB do 2º trimestre cresceu 3%, bem acima da expectativa, o que diminuiu o apetite por afrouxamento monetário imediato. A combinação entre atividade forte e inflação ainda fora da meta de 2% mantém a política monetária restritiva — e o capital longe dos mercados emergentes.
Com isso, os juros futuros (DIs) subiram em toda a curva por aqui, e o dólar comercial encerrou em alta de 0,36%, cotado a R$ 5,5885.
Moraes sancionado e cenário político ferve
No Brasil, o dia começou com outra bomba: os Estados Unidos sancionaram o ministro Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky. O secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, classificou o ministro como responsável por uma “caça às bruxas ilegal” e reforçou que “togas não protegem quem ataca direitos fundamentais”.
A medida irritou o governo brasileiro, que ainda não apresentou uma reação formal, aguardando o desfecho sobre o tarifaço. O ministro Fernando Haddad afirmou que pretende conversar com Bessent após sua volta da Europa e só tomará medidas quando o cenário estiver completamente definido.
O dólar turismo encerrou o dia cotado a R$ 5,80 na venda. O dólar futuro para agosto mostrou estabilidade, refletindo as incertezas sobre os próximos passos da política comercial americana e os desdobramentos da sanção contra Moraes.
Temporada de balanços e expectativas para o Copom
No mercado corporativo, o Santander (SANB11) abriu a temporada de resultados dos grandes bancos com números considerados fracos, mas as ações subiram 0,87%. O Bradesco (BBDC4), que divulga seu balanço após o fechamento, avançou 1,62%, impulsionado pela expectativa de um trimestre mais robusto.
BBAS3 recuou 0,25% após cortes nas projeções por parte dos analistas, enquanto Vale (VALE3) também teve um dia ruim, com queda de 1,79%. Petrobras (PETR4), por outro lado, subiu 1,02%, beneficiada pela alta no petróleo e pelas exceções no tarifaço.
A expectativa agora se volta para o Copom, que decide a Selic nesta noite, com a maioria dos analistas prevendo manutenção da taxa em 15%. E a quinta-feira promete ser novamente agitada, com a divulgação do índice PCE nos EUA, a métrica preferida do Fed para inflação, e dados de emprego no Brasil.