
- IPCA-15 sobe 0,33% em julho e acumula 5,30% em 12 meses
- Energia elétrica e passagens aéreas puxam alta dos preços
- Índice veio acima do esperado e pode impactar política monetária
O IPCA-15, considerado a prévia da inflação oficial, acelerou para 0,33% em julho, acima dos 0,26% registrados em junho, segundo o IBGE. O resultado surpreendeu o mercado, já que o consenso da Reuters projetava uma alta de 0,30%. Essa diferença reforça as incertezas no cenário inflacionário brasileiro.
Com o resultado de julho, o acumulado em 12 meses chegou a 5,30%, superando os 5,27% registrados no período anterior. A inflação segue pressionada por aumentos localizados, mas relevantes, como energia elétrica e passagens aéreas, o que acende novo sinal de alerta para o Banco Central.
Energia elétrica lidera altas no grupo Habitação
O maior impacto no IPCA-15 de julho veio do grupo Habitação, que subiu 0,98% e respondeu por 0,15 ponto percentual do índice geral. O vilão do mês foi, mais uma vez, a energia elétrica residencial. Com alta de 3,01%, o item foi o de maior peso individual, contribuindo com 0,12 p.p. para a inflação do mês.
A manutenção da bandeira tarifária vermelha patamar 1, que adiciona R$ 4,46 a cada 100 kWh consumidos, elevou os custos para o consumidor. Além disso, reajustes em capitais como São Paulo (6,10%), Porto Alegre (5,07%) e Curitiba (3,33%) ampliaram ainda mais a pressão. Já no Rio de Janeiro, houve uma exceção: uma das concessionárias reduziu a tarifa em 2,16%.
Essa dinâmica energética ajuda a explicar por que o IPCA-15 ultrapassou as estimativas. Mesmo em um cenário de deflação em alguns alimentos, os aumentos em serviços essenciais mantêm a inflação resiliente.
Transportes disparam com passagens e aplicativos
O grupo Transportes também exerceu forte influência no índice. A variação foi de 0,67%, puxada especialmente pelas passagens aéreas, que subiram 19,86% no mês. Outro destaque foi o transporte por aplicativo, com alta expressiva de 14,55%, refletindo maior demanda e ajustes de tarifa nas plataformas.
Por outro lado, os combustíveis aliviaram parcialmente o impacto. A gasolina caiu 0,52% e o etanol recuou 1,91%. Ainda assim, o avanço dos serviços ligados à mobilidade urbana acabou prevalecendo, gerando impacto líquido positivo no grupo.
Além disso, os aumentos em transportes elevam os custos indiretos de outros setores da economia, pressionando os preços de bens e serviços ao longo da cadeia produtiva.
Alimentos recuam, mas só no domicílio
A boa notícia do mês foi a deflação no grupo Alimentação e bebidas, que caiu 0,06%. Essa é a segunda queda mensal consecutiva, sustentada por produtos como batata-inglesa (-10,48%), cebola (-9,08%) e arroz (-2,69%). Esses recuos contribuíram para aliviar o orçamento doméstico — pelo menos dentro de casa.
No entanto, a alimentação fora do domicílio teve trajetória oposta. A alta passou de 0,55% em junho para 0,84% em julho. Essa aceleração mostra que os serviços ligados à alimentação continuam repassando custos, mantendo a inflação elevada para boa parte da população urbana.
Essa combinação de alívio no supermercado com aumento nos restaurantes deixa o quadro inflacionário mais complexo e exige cautela nas leituras de curto prazo.
Regiões mostram contrastes nos preços
Entre as regiões pesquisadas, Belo Horizonte apresentou a maior variação do mês, com alta de 0,61%. O aumento foi impulsionado principalmente pela energia elétrica e pela gasolina. Na outra ponta, Goiânia registrou queda de 0,05%, puxada por recuos nos combustíveis.
A diferença entre os centros urbanos reflete políticas tarifárias regionais e ajustes específicos de mercado. Embora algumas praças tenham registrado alívio, o movimento geral foi de avanço nos preços.
Com isso, o IPCA-15 de julho reforça o desafio de controlar a inflação em um cenário ainda instável e com fatores de pressão persistentes.