
A Kepler Weber (KEPL3) vai abrir um escritório na Argentina com a meta de fazer o país responder por até 15% de sua receita global em três anos. A decisão foi tomada após uma maratona de visitas a clientes locais, que confirmaram o potencial do mercado argentino com a retomada econômica e alta demanda por modernização no agro.
Em 2024, a receita da companhia chegou a R$ 1,6 bilhão. “Passamos de zero faturamento em 2020 para disputar, em 2025, o posto de principal mercado externo da companhia”, afirmou Bernardo Osborn Nogueira, CEO da empresa.
A ofensiva da Kepler ocorre em um momento de otimismo moderado com o novo ciclo político e econômico argentino, que combina expectativa de estabilidade cambial, queda da inflação e sinais de reabertura comercial. “A Argentina tem dois grandes trunfos: potencial agrícola gigante e perspectiva de retomada. Isso cria um ambiente de ‘catch-up’ tecnológico após anos de defasagem”, explica o executivo.
Negócios aquecidos
Entre os clientes visitados pela equipe da Kepler está a Copra, produtora de arroz, que investiu US$ 4 milhões em novos silos e sistemas de secagem.
Hoje, a empresa brasileira atua no país com dois representantes, mas quer transformar esse modelo em algo mais robusto — com time próprio, centro de serviços e suporte técnico.
Apesar de a estrutura do novo escritório ainda não estar totalmente definida, o conselho da empresa já avalia o tamanho do investimento. “O que vamos decidir agora é a velocidade com que queremos avançar”, disse Nogueira. Os parceiros atuais, com décadas de atuação no país, seguirão integrados à estratégia.
O plano é atender prioritariamente agroindústrias, mas o atendimento direto a grandes fazendas também está no radar. A operação de pós-venda e serviços de monitoramento de grãos, como os da subsidiária Procer, será fortalecida.
Vantagens competitivas e adaptação local
A Kepler vê vantagens na proximidade geográfica — uma de suas fábricas está em Panambi (RS), a cerca de 200 km da fronteira. A logística eficiente e os benefícios do Mercosul também tornam a operação mais competitiva.
Mas entrar com força no mercado argentino exige adaptação técnica. “Alguns equipamentos precisam ser ajustados. O uso de gás nos secadores é mais comum lá, assim como máquinas específicas para arroz. Estamos prontos para incorporar essas exigências ao nosso portfólio”, disse o diretor comercial da Kepler Weber, Ismael Schneider.
Condições políticas ainda são observadas
Apesar do entusiasmo, Nogueira é cauteloso. A experiência dos últimos anos — marcados por forte controle cambial, escassez de dólares e barreiras à importação — ainda pesa na memória. “Se voltarmos a um cenário restritivo, como vimos nos últimos cinco anos, perde o sentido termos presença direta aqui”, pondera.
Durante o auge das restrições, importadores precisavam de aval do Banco Central argentino para trazer máquinas de fora. Muitos acabavam recorrendo ao câmbio paralelo, encarecendo os equipamentos — o que travava o avanço tecnológico do agro local.
Agora, o CEO da Kepler aposta que o novo momento é diferente. E com a chegada de uma unidade local, o ciclo de crescimento pode se acelerar — não apenas para a empresa, mas para o agro argentino como um todo.
“A concorrência local é formada em sua maioria por empresas menores, o que abre espaço para a Kepler se destacar e crescer com força no país”, concluiu.