
A recuperação judicial da Light (LIGT3) entra na reta final, e o mercado começa a recalibrar as expectativas sobre o futuro da elétrica. O BTG Pactual chamou atenção para a grande defasagem entre o preço atual das ações e o valor de mercado que a companhia deve atingir após a conclusão da reestruturação.
No entanto, o banco também reforça que os riscos continuam altos e que o cenário é especialmente desafiador.
“Devemos nos perguntar, de forma bem direta, o que significa comprar ações da Light a R$ 6,10”, destaca o banco.
Atualmente, o valor de mercado da companhia é de R$ 2,27 bilhões, mas esse número representa apenas 37% a 41% do valor que a empresa deve alcançar ao fim do processo de capitalização e conversão de dívida.
O preço justo estimado, considerando o cenário pós-recuperação, seria entre R$ 3,74 e R$ 4,00, com potencial de valorização — ou desvalorização — dependendo da taxa EV/RAB atribuída.
A conta da diluição
Hoje, a Light tem 372,5 milhões de ações. Com a entrada de capital novo e conversões previstas, esse número pode saltar para até 1,61 bilhão de papéis. Isso pode confundir o investidor menos atento.
“O preço atual das ações revela apenas uma pequena parte da história”, afirma o BTG. “O valor de mercado totalmente diluído da Light após a recuperação judicial está atualmente em cerca de R$ 6,1 bilhões.”
Além disso, a conversão de dívida em ações foi feita a um valor muito inferior ao mercado: R$ 4,30 por papel, o que ajuda a explicar o nível de diluição e oscilação esperada no curto prazo.
Aposta de Tanure e nova capitalização
O bilionário Nelson Tanure, por meio da WNT, garantiu participação mínima de R$ 1 bilhão no aumento de capital — a um preço implícito de R$ 2,10 por ação. Caso todos os acionistas exerçam seus direitos, a capitalização pode chegar a R$ 1,5 bilhão.
“Se todos os acionistas converterem seus bônus, o valor das ações após a recuperação judicial será de R$ 3,74”, calcula o BTG. Com apenas o capital mínimo, o papel ficaria em torno de R$ 4,00.
Endividamento e valor da empresa
A dívida líquida ajustada após o processo deve cair para cerca de R$ 4,6 bilhões. Isso, somado ao valor de mercado diluído, leva o EV (Enterprise Value) da companhia para R$ 10,7 bilhões.
Com um RAB estimado de R$ 11,5 bilhões, o múltiplo EV/RAB está em 0,80x — abaixo da média histórica do setor.
“Se o EV/RAB saltar para 0,9x, as ações teriam que subir para R$ 9,20 (alta de 51%). Se cair para 0,7x, o papel corrigiria para R$ 3,00 (queda de 51%)”, projeta o banco. A 1x EV/RAB, o papel seria cotado a impressionantes R$ 12,30.
Os quatro pilares do futuro
Para o BTG, há quatro temas centrais que vão definir o destino da Light e do papel no mercado:
- Renovação da concessão: “A conversão da dívida em equity e o bônus de subscrição são acionados pela aprovação da renovação”, lembra o banco.
- Novo contrato e revisão tarifária: “O novo contrato dá ao regulador flexibilidade para oferecer tratamento especial para perdas de energia. O caso da Light, naturalmente, é o mais complexo do país.”
- Crédito tributário do PIS/Cofins: Uma decisão do STF esperada para este mês pode liberar R$ 3 bilhões a R$ 4,3 bilhões à empresa — valor que não está precificado ainda. “Esse crédito potencial não está incluído nos cálculos acima.”
- Reestruturação operacional: “Mesmo com novo contrato, os desafios operacionais da Light ainda exigem atenção. As perdas de energia, de 30,6%, continuam consideravelmente altas.”
Oportunidade ou armadilha?
O BTG reconhece que, mesmo com o potencial de valorização, a aposta na Light exige atenção e sangue-frio. “Este exercício tem como objetivo esclarecer a situação do equity para os investidores”, finaliza o banco.
Para quem busca oportunidades de alto risco e retorno, o papel da Light pode ser um novo capítulo — mas ainda é preciso virar a página com cuidado.