
- Lucro fraco e ROE em 8,2% expõem o peso do crédito e colocam a ação na defensiva
- Guidance indica melhora no 2º semestre mas depende de estabilizar inadimplência e provisões
- Corte do payout para 30% preserva capital agora enquanto reduz o dividendo no curto prazo
O Banco do Brasil (BBAS3) entregou um 2T25 bem abaixo do brilho recente. O lucro líquido ajustado ficou em R$ 3,8 bilhões, recuou 60% na base anual e veio aquém do consenso.
Além disso, o ROE caiu para 8,2%, menor nível desde 2016, o que somou pressão à tese. Assim, analistas se dividem entre “já no preço” e “mais cortes à frente”.
Balanço do 2º tri
O banco registrou R$ 3,8 bilhões de lucro, enquanto o mercado esperava algo perto de R$ 4,99 bilhões. Assim, a temporada dos grandes terminou com uma nota mais baixa.
A margem financeira bruta somou R$ 25,06 bilhões. Apesar de cair 1,9% ano a ano, ela subiu 4,9% contra o 1T25, o que suavizou parte do choque.
Além disso, as receitas financeiras avançaram tanto nas operações de crédito quanto na tesouraria. Porém, as despesas financeiras cresceram 11,9% e reduziram o ganho.
Por fim, itens não recorrentes ligados ao programa de transação tributária geraram impacto líquido pequeno, o que deixa o quadro concentrado no risco de crédito.
O que pesou
A qualidade da carteira piorou de forma ampla. Assim, o custo de crédito saltou 104% no ano e 57% no trimestre, para R$ 15,9 bilhões.
O agronegócio puxou as provisões, com inadimplência em cadeias de soja e milho, sobretudo no Centro-Oeste. Além disso, PF e PMEs também pioraram, com destaque para renegociações.
No curto prazo, a gestão ficou mais seletiva no agro e reforçou o consignado em PF. Entretanto, julho ainda veio pressionado, o que adia um alívio claro para o 3T25.
Reação e precificação
Parte do mercado já havia trazido as projeções para ~R$ 4 bilhões e ~10% de ROE. Desse modo, a surpresa negativa ficou menor do que há um mês.
Em junho, o banco lucrou R$ 1,6 bilhão, bem acima de maio, e mostrou alguma tração. Ainda assim, a XP, o BBI e outras casas mantiveram tom cauteloso.
Portanto, a tese depende de estabilizar inadimplência e de reduzir provisões. Sem isso, a recuperação do múltiplo pode ficar limitada.
Guidance e carteira
O BB revisou o lucro projetado de 2025 para R$ 21-25 bilhões. Assim, o ponto médio implica R$ 5-6 bilhões por trimestre no 2º semestre, acima do 2T25.
A carteira total deve crescer entre 3% e 6%, abaixo da faixa anterior. Além disso, o banco migra garantias de hipoteca para alienação fiduciária para reduzir perdas.
A administração sinalizou 3T25 similar ou ligeiramente melhor que o 2T25. Por fim, o 4T25 tende a se aproximar do 1T25, caso o crédito pare de piorar.
Dividendos e capital
O payout caiu de 45% para 30% para preservar capital. Portanto, o dividend yield estimado gira perto de 6% no cenário base.
A casa espera retorno gradual ao intervalo histórico quando o lucro normalizar. Entretanto, regras regulatórias e risco operacional ainda pedem colchão extra.
Nesse quadro, múltiplos seguem comprimidos: a ação negocia por volta de 4-5x lucro projetado, mas a visibilidade ainda é baixa.
O que acompanhar
Primeiro, trilha de inadimplência no agro, em PMEs e em PF, porque ela dita provisões e ROE.
Depois, custo de crédito e recuperação de margens, já que a tesouraria não sustenta sozinha o resultado.
Por fim, execução do guidance e a disciplina de capital, pois eles definem espaço para retomar dividendos maiores.