
- Medida pode provocar até 50 mil demissões e suspender R$ 60 bi em investimentos.
- Governo avalia liberar incentivo a carros quase prontos importados, favorecendo montadoras como a chinesa BYD.
- Enviaram a carta ao Planalto, a Alckmin e a Rui Costa, mas o governo ainda não respondeu oficialmente.
O presidente Lula enfrenta uma nova pressão da indústria automotiva. Em 15 de junho, os presidentes da Volkswagen, Toyota, GM e Stellantis enviaram uma carta ao Palácio do Planalto alertando que uma proposta do governo ameaça cortar até 50 mil empregos no Brasil. Segundo os executivos, o plano em discussão dentro da Casa Civil, chefiada por Rui Costa, cria incentivos para carros montados com peças 100% importadas, enfraquecendo a cadeia nacional.
A norma em estudo permitiria o uso do sistema SKD (Semi Knocked Down), em que os veículos chegam quase prontos do exterior. Esse modelo reduz drasticamente a necessidade de produção local. Como resultado, o setor vê uma vantagem desproporcional para montadoras estrangeiras, especialmente as chinesas, que investem pouco em fornecedores brasileiros.
Carta revela risco real de demissões e cortes bilionários
O documento, assinado por quatro presidentes das principais montadoras do país, expõe os efeitos práticos do incentivo aos veículos SKD. As empresas preveem a suspensão de 10 mil novas contratações e o desligamento imediato de 5 mil trabalhadores. Além disso, afirmam que R$ 60 bilhões em investimentos anunciados podem ser cancelados, o que compromete parte dos R$ 180 bilhões previstos para o setor.
Ademais, os executivos destacam que cada corte direto na fábrica afeta outros dez empregos na cadeia produtiva. Com isso, o impacto potencial da política chegaria a 50 mil vagas eliminadas em todo o setor automotivo. A rede de fornecedores, serviços e logística também enfrentaria forte retração.
Esse cenário colocaria em risco a própria lógica da política industrial brasileira, construída para fomentar a produção local. Desse modo, ao privilegiar peças vindas do exterior, o governo sinaliza na direção contrária do desenvolvimento tecnológico e da geração de empregos.
Medida favorece montadoras chinesas e divide governo
Nos bastidores, fontes do setor identificam a BYD como principal interessada na nova regra. A montadora chinesa solicitou ao Comitê Executivo de Gestão da Câmara de Comércio Exterior (Gecex-Camex) autorização para operar no modelo SKD com isenções. O órgão convocou uma reunião extraordinária para esta quarta-feira (30), onde deve decidir sobre o pleito.
Enquanto isso, as montadoras nacionais exigem que a política industrial brasileira valorize a produção interna. Além disso, elas pedem o veto a benefícios fiscais para veículos praticamente montados no exterior. A carta enviada ao Palalto também foi encaminhada ao vice-presidente Geraldo Alckmin e a Rui Costa.
Até agora, o governo não respondeu oficialmente ao manifesto. Portanto, a ausência de retorno tem ampliado a tensão entre o setor produtivo e Brasília.
Montadoras cobram reação para evitar colapso do setor
Os representantes da indústria automotiva argumentam que o Brasil deve agir para proteger sua base produtiva. Logo, incentivar importações em detrimento da indústria local, segundo eles, provocaria um desmonte silencioso do setor, com efeitos duradouros sobre a economia.
Além disso, alertam que o movimento pode abrir um precedente perigoso. “Essa prática deletéria pode disseminar-se em toda a indústria, afetando diretamente a demanda de autopeças e de mão de obra”, afirma o documento. A frase, embora crítica, reflete o receio generalizado entre fornecedores e empregados do setor.
Por fim, as montadoras cobram que o governo reavalie a proposta e conduza um debate técnico com todos os atores envolvidos. Sem essa escuta, argumentam, o país pode mergulhar em uma crise industrial de difícil reversão.